Isle of Dogs (Ilha dos Cães) de Wes Anderson

É revelador quando a assinatura de um realizador é clara, independentemente do formato em que ela é transmitida. Wes Anderson possui uma cadência de diálogos, um mise en scéne, um movimento de câmara, que são únicos nas salas de cinema - não sei se alguém já inventou o termo wesanderseniano, mas se não reclamo-o já. Os seus filmes são clínicos sem perder candura, cheios de humor seco sem perder a seriedade. Não duvide-se que existe calma e estudo em cada plano (mais ainda em filmes de animação), porque Anderson é um realizador metódico, mas também não deixa de haver alegria no processo, na arte de criar algo verdadeiramente novo e seu. Wes é aquilo que  os pedantes de Cinema (às vezes - ou sempre - também o sou) chamam de auteur. Este Isle of Dogs é mais uma prova desse facto e a segunda vez que explora filmes de stop-motion, depois do Fantastic Mr. Fox (inédito nas salas de cinema em Portugal).

Neste novo filme, Anderson acrescenta ao seu repertório de manias a cultura e estética japonesas, ao escolher a geografia de 20 anos no futuro das ilhas nipónicas, mas também referências a realizadores de renome como Akira KurosawaHayao Miyazaki ou pintores como Hokusai e Hiroshige, todos referências clássicas e até de senso-comum quando se fala do Japão. Dentro de duas décadas, uma família de linhagem antiga consegue finalmente levar até às últimas consequências o seu ódio dirigido aos cães. Cria uma doença , infecta todos os canídeos com a mesma e exila-os para uma ilha de lixo. Mas Atari, um jovem de 12 anos e protegido do chefe da família-que-odeia-cães, tem como seu melhor amigo o primeiro cão que é exilado para a dita ilha e não resiste em ir salvá-lo. Uma vez lá, junta-se a uma matilha composta apenas de cães-alfa e inicia a sua viagem nesta terra fantástica, mais ou menos como a Irmandade do Anel iniciou a sua pela Terra Média.

A Ilha de Cães é um filme belíssimo, não só do ponto de vista estético (e acreditem que é e muito) mas de execução e história. Assume-se como um produto de precisão digna de engenheiro, com movimentos bruscos e lineares da câmara, cheio de coração e humor, da velocidade típica do realizador, e de arte de fazer Cinema. Filmes destes ensinam futuras gerações a gostar da 7.ª Arte, não só pelo espectáculo, mas também pela curiosidade da descoberta (este filme deverá ser visto várias vezes para absorver todos os pormenores) e pelo fascínio da idiossincrasia. É só pena que possa passar despercebido na mesma semana em que estreia o gorila que é os Vingadores. Espero bem que não.

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