Star Wars VIII, The Last Jedi de Rian Johnson

(aqui há spoilers)

Como escrever sobre algo que se gosta desde o ínicio da década de 80? Desde que se sabe que o favorito é o consensual episódio V e o muito menos consensual III? Sabe-se que existem fãs e fanáticos mais acirrados, que devoram todos os pormenores da mitologia (como os compreendo, sou assim com outras). Que devotam vida, secundam moral e ética. Que constroem imaginações alicerçadas em mundos imaginários de ficção científica. Como escrever sobre este novo episódio VIII, Os Últimos Jedi? Apenas de uma maneira: com verdade.

Rian Johnson foi ambicioso com este novo filme da eterna saga de Star Wars. Desviou-se do caminho já várias vezes trilhado, sem esquecer os toques de nostalgia que sublinhavam o anterior de J.J. Abrams. O realizador/escritor escolheu rechear o enredo e as personagens de metáforas que aludem à passagem de testemunho e ao abandono de alguns paradigmas da saga da família Skywalker. É exactamente com este "abandono" dessa importante família que Johnson sublinha qual a sua intenção e o seu legado para o universo criado por George Lucas. Este oitavo episódio é sobre, entre algumas outras coisas, a democratização da omnipresente Força. É sobre como qualquer ser pode descobrir os seus segredos e transformar-se num guerreiro Jedi. Essa intenção é sublinhada na protagonista Rey, não só pelo facto de descobrirmos que os seus pais não são "ninguém em especial" (leia-se, não são de linhagem nobre, não são parte do clã Skywalker - que também já não eram só nobres - vejam o episódio I) mas também no episódio surreal-soft da jovem numa gruta. Ao tentar descobrir quem são os seus pais, a sua própria imagem é reflectida, numa alusão que mais tarde ficará clara - ela não precisa de ninguém, de sangue ou de mestre para tornar-se numa Jedi e prosseguir esse legado.  Esta mensagem de inclusão, se não era clara por altura da revelação, é martelada de maneira pouco subtil na cena final, quando vimos uns jovens escravos a usarem os poderes telecinéticos dos Jedi.

Este episódio tem ainda outras mensagens poderosas e bastante actuais, como seja o elogio ao Vegetarianismo e Veganismo em alguns momentos curiosos. Chewie é "forçado" a não comer um pássaro já cozinhado quando os congéneres da vítima ainda vivos o confrontam com olhares "fofinhos". Luke ordenha umas "vacas" extra-terrestres numa plácida e bucólica paisagem mas sem disruptar a vida das mesmas (não estão domesticadas nem vivem em quintas). Quem salva a Resistência são umas raposas-diamante - elas são as únicas que sabem a saída de uma gruta que nem a tecnologia avançada consegue descobrir. 

Também existe uma mensagem anti-bélica na figura da personagem de Benicio Del Toro e na cidade-casino povoada por hiper-ricos que vivem em condições paradisíacas. Ou melhor, uma mensagem sobre quem lucra com a guerra e sobre quem contribuiu para que lucrem com a guerra. Sim, são os dois lados dela, quer os maus, quer os bons.

Existe um esforço para incluir mensagens profundas, esforço esse que é feito de forma mais ou menos interessante. Ao mesmo tempo, Rian avança a mitologia dos Jedi, da Força e da Star Wars, preparando-a e a nós para um futuro sem as rixas e contendas da linhagem Skywalker, manchada que está com tantos dos seus membros a sucumbir ao lado negro da Força. Essa conspurcação está bem patente na mais interessante das personagens desta nova trilogia: Kylo Ren, filho de Han Solo e Leia Organa. Adam Driver entrega-nos uma personagem trágica, marcada por traição, pela sede de poder, uma verdadeira força Shakespereana com os dias contados, porque o futuro da Guerra é outro. Adeus à tragédia filial. Venha a aventura inclusiva. 

Contudo, no meio de tanta renovação existe algo que falha. A história é gorda demais. Batalhas a mais. Pirotecnia a mais. Algo a mais para o que parece muito de intenção mas que falha na execução. Como se se ficasse apenas no esboço - o que é estranho sendo que o filme tem duas horas e meia (que, confesso com amargo de coração, já me estavam a cansar). Também posso falar da frenética construção de merchadising, de bonecos para vender, de personagens que têm um aspecto lindo ou fofo ou as duas coisas ao mesmo tempo mas cujo tempo em cena é nulo ou, havendo, é ténue, sem corpo, sem alma, sem diálogos, sem personalidade a não ser a do lugar comum (Phasma, por exemplo, Snoke, outro). Snoke morre sem ser pouco mais (por enquanto?) que um rol de frases feitas em filmes anteriores da saga. Admito que há que focar principalmente em Kylo Ren e, portanto, Snoke é apenas uma forma de percorrer esse caminho mas, ainda assim, não poderiam ultrapassar a tragédia de os vilões serem uni-dimensionais? Mas posso perfeitamente desculpar a construção de brinquedos porque desde cedo que esta saga também se assume como tal, mas sem um alicerce de história robusto, qualquer metáfora ou venda de produtos cai por terra (ou deveria, porque cheira-me que neste filme nada vai cair e tudo ir-se-á vender que nem pãezinhos quentes).

Adoro entretenimento. Adoro filmes pipoca. Adoro Star Wars. Sou fã mas não fanático. Outros há que amam muito mais que eu. Haverá os que se sentiram tocados por este episódio VIII. Força para eles. Eu, infelizmente, não. E gostava de fazer parte desse lado. 

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