MOTELx - The Limehouse Golem e Kaleidoscope



O festival MOTELx 2017, a decorrer entre os dias 5 e 10 de Setembro, é um dos momentos cinematográficos mais esperados da rentrée e do Acho que Acho. Vamos lá estar e tentar vos dar uma apreciação dos filmes que teremos a sorte de ver. Passem por aqui todos os dias!



As duas propostas do dia de ontem vêem ambas do Reino Unido mas as semelhanças acabam por aí. Em temática, ambiente, narrativa, orçamento e, infelizmente, qualidade, são bastante diferentes. Enquanto The Limehouse Golem de Juan Carlos Medina é um bom filme de entretenimento e uma reflexão feminista passada na Londres Vitoriana, Kaleidoscope de Rupert James é a incursão pela mente destroçada de um homem solitário que acaba por ser demasiado longa e desconexa.

Curioso que as duas propostas têm, como cabeça de capaz, dois actores de topo do circuito inglês, habituados a filmes de alto orçamento e projecção internacional. No caso de The Limehouse Golem é Bill Nighy que fornece a infra-estrutura moral e narrativa do filme, personificando um agente da Scotland Yard encarregue de investigar assassinatos ritualescos na Londres do final século XIX. Se a história se assemelha a um certo estripador, não duvido que as intenções fossem essas, mas este filme é muito mais que apenas um gore-fest de encenação macabra. Acima de tudo, é uma incursão pelo papel das minorias sexuais e, principalmente, de género. Escrito por Jane Goldman, explora o papel discriminatório da mulher na sociedade, usando a nossa percepção para ludibriar não só as personagens como o espectador. Esse truque de espelhos e fumo acaba numa revelação que, ainda que pouco surpreendente, é dita com pormenores que colocam quem vê o filme em cheque e a questionar a sua própria posição em relação a este assunto. Este é um file de considerável orçamento que, contudo, faz bom uso do mesmo e cuja narrativa é robusta, pormenorizada, transportando este mundo de forma vivida para o ecrã, e cheia de conteúdo.

O mesmo não se pode dizer de Kaleidoscope que, mesmo com a ajuda de Toby Jones, que é a força deste filme, cambaleia sob o peso de uma narrativa labiríntica e longa.  Ainda que consideremos a última parte, onde a essência do enredo é revelada, para chegar-mos a esse ponto demorou-se demais e, no que a mim diz respeito, desinteressei-me. Este filme, ainda que de baixo orçamento e narrativa parcimoniosa, teria beneficiado de alguns cortes para aumentar a tensão e clarificar o enredo. A prestação do actor principal salva Kaleidoscope do seu próprio peso, ao conseguir encarnar um homem destruído pelo abuso. 

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