Atomic Blonde de David Leitch

A mudança de nome do material-fonte em que este filme é baseado é apropriada.  O nome da Banda Desenhada original, Coldest City, da autoria de Antony Johnston e Sam Hart, é alterado para Atomic Blonde, para claramente aludir à personagem principal interpretada por Charlize Theron. Este filme não seria o que é sem esta actriz no papel principal. 

Theron é o filme. O empenho com que se entrega não só às cenas de acção mas à construção da personagem faz o filme e torna-o suportável. Logo na primeira cena em que aparece, somos presenteados com a sua intensidade: as feridas que abundam no rosto e no corpo, disfarçando a sua beleza; o corpo nu violentado pelo trabalho de espia; a dor e manchas negras escondidas por roupa de designer. Theron deita fora a beleza e substitui-a pela brutalidade  desta vida dita glamorosa. Ela é o anti-James Bond não só em género como também nas consequências da violência, que não é bonita de se ver. 

Esta entrega é mais notória na melhor cena de todo o filme, um impressionante plano sequência que vale não tanto pela técnica (que não é nova ou novidade), mas pela conjugação desta com o trabalho físico da actriz. A luta, enquanto desce vários lances de escada e que depois segue para a rua, é crua e sanguinária. Coreografada sem se fazer notar.

Infelizmente, os elogios que posso fazer a este filme acabam por aqui. A história é redundante, sem complexidade e demasiado ocupada com twists para se fazer entender. A realização, excepto pelo plano sequência, é pouco inspirada e muito preocupada em fazer pequenos videoclips de êxitos musicais da década de 80 (o filme passa-se em Berlin de 1989, aquando da queda do muro de Berlim). Esses êxitos são bons de ouvir, sem dúvida, mas um filme é mais do que isso e, neste caso, seguem-se sem ligação às cenas e com pouca mais intenção do que despertar algum saudosismo. Compare-se com Baby Driver, outro filme de acção com muita música, em que esta é parte integrante da história e nunca se sobrepõe à "legibilidade" das cenas.

Um filme que vale a pena ver pela imponente presença de Charlize Theron. Mas muito pouco mais.

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