Black Mirror, 3.ª temporada, do melhor que a TV (e a arte) tem!



Quem viu as duas primeiras temporadas e o especial de Natal desta série inglesa de ficção científica (chamemos-lhe assim, por enquanto) sabe da qualidade dos argumentos, sabe da complexidade e actualidade dos conceitos. Black Mirror parte de temas actuais ligados à Internet, à tecnologia, mesmo às redes sociais, e extrapola-os para elaborar narrativas complexas e capazes de colocar-nos num estado entre o divertimento e a apreensão. Divertimento pela originalidade e suspense das histórias. Apreensão porque, tal como em qualquer boa ficção, existe sempre um muito de realidade nas entrelinhas. Quando vimos o especial de Natal pensávamos que ficaríamos por aí durante algum tempo, mas a Netflix, como é seu apanágio, agarrou nesta superior série e deu-lhe asas para uma terceira temporada. E, até ver, é a melhor desta série de TV e, sem duvida alguma, o melhor que vi este ano. E que me perdoem a Guerra dos Tronos, Preacher, Os Boys, Veep, apenas para nomear quatro das minhas favoritas do ano.

Curioso estar a falar de meros seis episódios, quase todos com cerca de uma hora, excepto pelo último que é, em boa verdade, um filme de 1h30. É até engraçado falar de filmes porque o argumento de Black Mirror, sem duvida o seu forte, é superior à vasta maioria do cinema produzido (para desespero de alguns realizadores e actores europeus e portugueses - estou só a brincar ou será que não?). Cada episódio parte de uma situação estranha, como se vislumbrássemos apenas uma parte de toda a tapeçaria. À medida que a narrativa avança descortinamos a totalidade do quadro, muitas vezes com a revelação de uma pequena (ou grande) surpresa, que fecha a história de forma contemplativa, deixando o espectador não em suspense mas em estado de questionamento. Cada episódio é fechado e pode ser visto sem qualquer tipo de ordem. A filosofia é, contudo, a mesma. Os temas tocam-se mas as narrativas nada têm em comum. Ficamos sempre com a sensação de estarmos num futuro muito próximo mas não identificável (excepto por um episódio desta temporada que parece ocorrer no presente). Centram-se na evolução de uma tecnologia existente actualmente ou apenas verosímil e desenvolve o impacto que terá nos personagens envolvidos. Esta terceira temporada centra-se particularmente na internet e muito nas redes sociais. Desenganem-se se acham que o tema poderá perder fulgor por causa disso ou actualidade com o passar do tempo. Muito pelo contrário. As redes sociais são apenas o mote para comentar o mais perene dos nossos interesses: a nossa própria natureza.

Dos episódios tenho de destacar o primeiro, Em Queda Livre, sobre um sistema de rating de pessoas - é ver para crer e não se esqueçam que, muito recentemente, esteve para se lançar a app Peeple. Também o sexto é particularmente impressionante, Ódio Nacional, escolhendo como tema a necessidade de maledicência das redes sociais. E, finalmente, destaco o único episódio que não refere-se a redes sociais mas que é o melhor da temporada e aquele que destaco em toda a série: San Junipero. Este é verem sem qualquer expectativa. Uma das mais belas histórias que vi nos últimos tempos.

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