É este os EUA? Ou melhor... é este um dos EUA? O que se esconde por detrás dos motéis, nos parques de estacionamento feitos de betão gretado pelo sol? No ensopado de sangue dos pântanos entre estrada e indústria? Nos jactos de fogo que perpetuam luz ao lado de poços de petróleo? Nas vivendas de subúrbios abastados, frequentadas por cowboys de trazer por casa, com tempo e dinheiro a mais, passeando-se em descapotáveis e vestidos de branco? Nos subúrbios pobres onde as crianças sonham com o Homem-Aranha e com o Super-Homem enquanto as mães afundam-se em sessões contínuas de vício? Não sei que EUA é este a não ser que é um dos EUA e aquele do qual American Honey de Andrea Arnold conta a história.
Teen Road movie: género de valor próprio. Em American Honey são os adolescentes aqueles que saem à procura de dinheiro, numa sociedade que rege-se por quem mais o reproduz, por quem não é loser, por quem mais mente para o conseguir. A protagonista, Star, essa odeia a falta de sinceridade, a desonestidade, e tudo o que faz é revestido do brilho da verdade, nem que seja apenas a sua, nem que para isso tenha de recorrer a actos menos limpos. Nas estradas, onde corre os sangue da civilização, todos tentam ser indivíduos apesar de estarem perpetuadamente a afogarem-se na pesada pluralidade. Existem aqueles que conseguem sobreviver, baptizar-se, imergir renovados das águas. Para esses é escrito o conto de Star, que também vive uma história de amor, bela, conturbada e cheia de bom sexo, como todas as boas historias de amor devem ser. Isto e muito mais é American Honey, um dos grandes filmes do ano.
Filmado em formato quase quadrado, a realizadora admite emular fotos do Instagram e reduzir a escala à humana - tem dificuldades em perceber porque se usa o formato letterbox quando os actores, quando sós, não preenchem o enquadramento. Andrea Arnold é inglesa e filmou a América como ninguém, como Robert Frank a fotografou em The Americans. Andrea Arnold não gosta de atribuir intenções aos seus filmes. Faz bem. Isso é para o espectador. Ela tem "apenas" de continuar a dar-nos obras destas.
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