(obrigado Adriana e Tomás por lembrarem-me de ver este documentário)
Quando acabei de ver este documentário não pude deixar de ter sentimentos diferentes. Dois deles. Dois bichinhos que sussurravam-me ao ouvido coisas dispares.
Um estava feliz que o filme Dune de Alejandro Jodorowsky nunca tenha sido feito. Eu sou, para quem não lê este Blog, um enorme fã de Banda Desenhada. Descobrir que a vida deste autor teria sido bastante diferente se o filme tivesse sido feito, que nunca teria produzido determinadas obras de BD, foi um alívio - para esta minha vozinha. Várias ideias não utilizadas acabaram por aparecer na 9.ª Arte. Ele próprio o diz: Incal; Metabarões. Com certeza que teria feito outras obras (ele idolatrava o Moebius e a Arte) mas estas duas, em específico, nelas ele aproveitou ideias do seu Dune. Jodorowsky, da inacreditável, penosa e pesada desilusão de não fazer esta gigantesca obra de arte germinou inspiração para fazer outras coisas, talvez menores, talvez maiores. Não saberemos porque umas existem e outras não.
A outra voz só podia gritar a plenos pulmões: como é que foi possível este filme não ter sido feito? Pelo amor de Deus. As ideias eram brilhantes. O casting era verdadeiramente estelar: Salvador Dali (a sério. O Salvador Dali); Orson Welles; Mick Jagger. Os desenhadores de indumentária, cenários, criaturas, arquitectura não eram ainda enormes mas viriam a ser: Moebius (da BD - desenharia cenários para o Alien, por ex.); Giger (conhecido por ter concebido a criatura principal do Alien). A quantidade de pessoas hoje lendárias é inacreditável.
Perceber todo o processo de criação deste filme é, por outro lado, um dos outros grande atractivos. A loucura criativa de Jodorowsky e dos seus, como ele os chamava, "guerreiros espirituais" é, por si só, belo de se ver. Atraente! Captivante! Reparem nesta quantidade de exclamações que uso. Não faço mais que tentar captar o entusiasmo de Jodorowsky enquanto fala de como tentou fazer o filme, de como se aproximava de quem queria conquistar para o seu lado.
Nunca saberemos se este Dune teria sido bom. Entre a intenção, o acto de criar e o produto final existem várias distâncias. Pode ter sido o maior filme nunca feito. Sim, pode (se bem que o Napoleão de Kubrick também não lhe ficará atrás). Mas, neste momento, é alimento para a imaginação e para o desejo. Só por isso já é maravilhoso.
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