Kiki, el Amor se Hace de Paco León (Desejos, o Amor faz-se)

O sexo é um tema difícil de abordar. Nós, latinos e mais especificamente ibéricos, lidamos com ele de uma forma que é muito nossa. Aparentemente descontraída, com corpos meio vestidos por causa do calor, mas na realidade contraída, com o negro viúvo do inverno. É uma dicotomia que arrasta homens e mulheres para o labirinto. Uns saem dele, outros - esticando a metáfora para o lado do óbvio - perdem-se nele. Não sei se os espanhóis serão diferentes de nós, portugueses, mas este filme de Paco Léon pode ser uma pista. 

A premissa é aparentemente banal. Casais de várias idades enfrentam diferentes problemas de cariz sexual. Ao longo de quase duas horas irão encontrar variadas formas para lidar com essas insuficiências mas de maneira humorística, descontraída e colorida, como imagino (perdoem-me a generalização) que são os espanhóis. Um tema tão tabu dá azo a que tenhamos de tratá-lo, muitas vezes, com luvas de pelica. Nada poderia ser mais longe da forma como o realizador aproxima-se dele, escolhendo a desfaçatez, o sorriso, o ridículo, agarrando o público pelo humor e acorrentando-o pela proximidade.  

Este filme (como também senti com o Volver de Almodóvar) poderia ser nosso se tentássemos escrever algo assim: imaginativo; divertido sem cair no brejeiro - a eterna bipolaridade da cinematografia portuguesa, sendo que do outro lado está a pesada seriedade intelectual. Não há aqui realização intrometida - excepto por uma deliciosa sequência inicial. Paco Léon afasta-se e deixa que as palavras e os actores (todos deliciosos) respirem e envolvam-se de corpo e (mais) corpo nas personalidades e eventos, que são variados, quase inverosímeis, e extremamente divertidos. 

Este é um filme assumidamente para adultos, adultos já com largos anos de vida, com casamentos falhados, outros por começar, com filhos criados e outros por criar. Não existem problemas fáceis e lineares porque a vida é complicada e muito pouco fofa. As soluções românticas não são aquelas que os filmes românticos repetidamente vendem. Nem sempre passam pelo banal, quer falemos de um casal hetero, quer homossexual. O amor e o sexo assumem neste delicioso filme a sua pluralidade, a sua liberdade de opções. Nada poderia ser mais actual, tendo em consideração a tragédia que ocorreu recentemente nos EUA. Obrigatório ver sem preconceitos e com a cabeça adulta cheia da experiência desarrumada da vida.  

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