Nenhuma destas BD's tem alguma coisa a ver com a outra. Os temas são diferentes, as abordagens dispares. Sim, nenhuma das duas tem um átomo de "realidade" no que às roupagens diz respeito. Ainda assim, cada à sua maneira tem algo a dizer, nem que seja para nos divertir.
Space Dumplins é a esperada continuação do trabalho deste superior autor de BD, Craig Thompson. O seu Blankets é das minhas obras favoritas e Habibi, ainda que não figure entre as leituras de reverência não deixa de ser de referência. Ora, a temática e execução de Space Dumplins é um desvio significativo destas duas anteriores obras. Este é um livro infanto-juvenil que, contudo, pode e deve ser apreciado também pelos mais adultos. Trata-se de um romance de ficção científica, passado num futuro insondável e numa galáxia longínqua, onde um pai, uma mãe e a filha ver-se-ão envolvidos numa crise espacial que envolve gigantescas baleias, interesses científicos obscuros e, acima de tudo, a importância da família e da amizade. Se isto vos parece um filme da Disney talvez devam desenganar-se porque Craig Thompson é um homem com habilidades diferentes.
A heroína principal é a filha, que parte em busca do pai desaparecido num encontro com as estranhas baleias, e é acompanhada por dois estranhos seres, um pequeno galo antropomorfizado e um outro que parece antes um desenho animado. O que de facto poderia ser o inicio de um aventura delicodoce (que também é) Thompson transforma, através de um traço decidido, virtuoso e de um "contar de história" fluído, numa reflexão mais profunda. O autor é um mestre da BD e isso nota-se em cada momento e em cada quadradinho, nas expressões dos personagens, cada qual contando, em si mesma, uma nova história. Esta é uma nova e deliciosa vitória do autor.
(PS - Achei interessante ter acabado de ler o Moby Dick e a seguir descontrair lendo uma BD que, claramente, faz alusão a esta obra maior da Literatura)
Swamp Thing: Season's End encapsula dois fins (ambos tristes): o fim do trabalho do escritor Charles Soule neste personagem, em colaboração com o desenhador Jesus Saiz; o fim da iteração do "herói" na versão Novos 52 da editora DC Comics. Não vou perder tempo a falar-vos deste segundo fim mas algum no primeiro.
Desde que Alan Moore escreveu Swamp Thing na década de 80 o personagem nunca mais foi o mesmo - e muito menos a BD nos EUA. A sua impressão digital foi de tal forma significativa que quase eclipsou a dos criadores originais (Len Wein e Bernie Wrightson). Todos os que o seguiram de alguma forma emularam o seu trabalho e Charles Soule não é excepção (tal como não foi o imediatamente antes, Scott Snyder). Contudo, existe algo de profundamente divertido e diferente neste trabalho. Existe a sensação de baralhar e voltar a dar, sem duvida, mas arquitectada de forma convincente e inovadora, capaz de agarrar o leitor ao folhear compulsivo de páginas. Garanto-vos que não me diverti tanto como com o trabalho de Snyder, apesar da sua ambiência negra e deprimente tão bem adaptada ao personagem. Soule transporta Swamp Thing para o território puro da narrativa super-heróica, sem perder a alma (que trocadilho tão giro) que Moore e Wein deram ao personagem. O fim da história achei particularmente maravilhoso, não só comentando o facto de a expectativa para uma coda surpreendente ser elevada como também deixando espaço para uma continuação (que, infelizmente, não virá). Sem duvida, uma das grandes runs do Swamp Thing.
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