The Big Short de Adam McKay e Spotlight de Tom McCarthy


Este fim-de-semama, para aqueles que ligam a essas coisas, morreu um dos juízes do Supremo Tribunal Constitucional dos EUA, Antonin Scalia. Era um conhecido conservador com ligações ao Partido Republicano. Passei os olhos por um artigo que, meio satiricamente, dizia que a humanidade podia, afinal, ter esperança na sua salvação. Um dos maiores opositores à "teoria do aquecimento global" estava agora "fora do caminho". Um homem com tremendo poder tinha saído de uma posição que lhe dava esse poder e na qual o podia exercer de forma discricionária e de acordo com as suas verdades. 

Este nosso século XXI é um século onde, pela primeira vez, o poder absoluto usado de forma irresponsável ou sociopata pode ter consequências longe das suas fronteiras. Essa é uma realidade que qualquer um destes dois filmes, The Big Short e Spotlight, bem o atestam. De forma quase documental, sem muito se aterem a pormenores "sentimentais" e mesmo "relacionais", cada um deles relata factualmente os acontecimentos que permitiram a que homens com ... literalmente... poder a mais  pudessem abusar da sua posição e prejudicar um número significativo de indivíduos, num dos casos, e um mundo inteiro, no caso de outro - deixo ao critério de cada um de vós decidir qual a categoria de cada filme, ou se pertencem às duas.

A pedagogia de cada uma destas duas histórias é importante. É essencial estar atento ao que se passa em sectores tão relevantes da civilização. A Religião, por um lado, enfoque de Spotlight, acompanha o ser humano desde que viu um relâmpago a incendiar uma árvore. A sua importância é significativa e, portanto, usada e abusada por homens com sede de poder. A Economia, por outro, o tema por detrás de The Big Short, sempre foi o maior dos deuses da humanidade. Não existe, ao contrário do que o Reaganismo nos quis fazer acreditar, limites para a ganância humana. Ela é imparável e voraz. Apenas quer crescer por crescer.

Não nos esqueçamos das lições que estes dois filmes nos querem passar, mais ainda à luz do que são os riscos do jogo à escala que hoje em dia se joga. Não nos podemos dar ao luxo de estar desatentos. Hoje, verdadeiramente, o bater de asas de uma borboleta em Nova Iorque pode originar um tufão destruidor nas fronteiras da Alemanha com a Polónia. Dois filmes essenciais para os dias de hoje. Só espero que daqui a 50 anos sejam considerados datados. Que não sejam documentos importantes para perceber onde as coisas correram muito mal.

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