O que vou lendo! - Trilogia Nemo de Alan Moore e Kevin O'Neill.


Apesar do nome, o herói desta nova trilogia do universo da Liga dos Cavalheiros Extraordinários, criada por Moore e O'Neill, não é sequer um herói, mas antes uma heroína. Mais precisamente a filha do famoso Capitão das 20 000 Léguas Submarinas de Júlio Verne, e que já tinha aparecido em volumes anteriores das aventuras da Liga. Para quem não sabe, o conceito por detrás destas histórias é simples e eficaz. Agarrando num arquétipo da Banda Desenhada, o da equipa com os maiores e melhores super-heróis (Liga da Justiça e Vingadores, para quem não está familiarizado), reúne sob um mesmo chapéu os mais conhecidos personagens da Literatura vitoriana, nomeadamente Mr. Hyde, Homem Invisível, Drácula, Minas de Salomão e, como já perceberam, também o Capitão Nemo. Já foram publicados vários volumes, na maior parte dos casos focados na equipa original, mas esta trilogia muda o olhar para a filha do famoso navegador indiano de submarinos. A fórmula é similar mas, pela primeira vez, Moore e O'Neill decidem concentrar a sua atenção e narrativa na personalidade desta mulher.

O resultado é menos robusto que os esforços anteriores mas, ainda assim, esta trilogia, que abarca a vida da personagem ao longo de quase um século, funciona bem. Somos levados para três momentos diferentes, com um arco único, o do confronto entre Nemo e uma deusa imortal. Moore e O'Neill concentram a atenção em três pontos geográficos e temporais diferentes, nomeadamente na Antárctica do início de século, na Alemanha da 2.ª Grande Guerra e na Amazónia da década de 70. Em qualquer trabalho de Moore as leituras não se cingem ao superficial, ainda que esta Liga acabe por ser das suas obras mais leves e "aventureiras", muito ao estilo pulp, que já tinha experimentado com Tom Strong. As referências são, na maior parte dos casos, meta-textuais, cada volume funcionando como um "onde está o Wally" da Literatura e da cultura Pop (até poderão ver o D'Artacão, não estou a brincar). mas, claro está, Moore não se refreia na ironia e sátira com episódios de um humor muito britânico, alusivo e nunca declarado. Gostei particularmente de uma pequena piada que acontece no terceiro volume, o passado em 1975, a nas mulheres que por lá aparecem. 

Apesar de serem três obras que, a meu ver, não estão no mesmo patamar que os anteriores volumes da Liga, não deixam de ser leituras acima da média. Que posso fazer? Moore e O'Neill habituaram-nos mal. 

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