Já que estou a ficar mais velho, convém preparar-me.


Diz-se que apenas os seres humanos têm noção da morte. Não sei se é verdade e duvido que assim seja. Diz-se também que os anos trazem sabedoria - pelo menos para alguns. Não sei se é verdade e duvido que assim seja - pelo menos para alguns. É porque não estou a ficar mais sábio que gostava de ser imortal. Para poder cometer os erros que bem entendesse. Ou para poder esperar e observar com calma. Porque se fosse imortal talvez pudesse não arrepender-me tanto. Não gostaria de chegar ao fim da minha história e achar que o final tinha sido... não sei bem qual a palavra ... incompleto? Acho que pode ser esta.

Os filmes Youth de Paolo Sorrentino e 45 Years de Andrew Haigh lidam, de forma bem diferente, com as agruras de chegar a "uma certa idade". Não é somente envelhecer fisicamente. Nem sequer isso é o mais importante. Obviamente que o decair da forma física, o não ser capaz, com a mesma saúde e com o mesmo vigor, entrarão como factores da equação. Contudo, aqui falamos de inevitabilidade, de arrependimento, quer sejamos nós os causadores deles, quer forças externas a nós - sejam estas pessoas ou a natureza. No caso do primeiro filme, vários personagens passeiam-se no palco de uma estância de férias luxuosa situada nas montanhas, os personagens principais Michael Caine e Harvey Keitel. O primeiro é um maestro reformado que recusa-se a continuar a trabalhar mesmo que incentivado pela rainha inglesa. O segundo é um realizador de cinema em fim de carreira que procura ainda recuperar o brilho que parece ter perdido. Amigos de infância, procuram, cada um à sua maneira, formas de lidar com várias doses de arrependimento que a idade e o tempo não permitem corrigir. No segundo filme, o enredo é mais mundano. Um casal irá ter de aprender a lidar com um monstro adormecido há 45 anos. 

Ambos os filmes lidam com a incapacidade que temos em voltar atrás. No caso de 45 Years, o passar do tempo adquire um peso trágico, irreversível, porque um dos personagens tem de lidar com algo do qual não tem culpa nenhuma. Em Youth esse peso não parece tão grande porque os personagens principais sempre foram donos, relativamente falando, da sua própria vida. Daí a vantagem em ser imortal. Quase como se tivéssemos um botão de reiniciar. Poderíamos não voltar atrás mas antes poderíamos evitar não cometer os mesmos erros ou impedir que outros cometam erros. Seria mesmo assim? De uma forma ou de outra, nunca o vou descobrir. É esperar que não cometa erros demais e que nunca me venha a arrepender (fortemente) de caminhos escolhidos ou não escolhidos. 

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