Loin des Hommes de David Oelhoffen (Longe dos Homens)

Já o disse: admiro os contadores de histórias. Acredito ser uma das melhores Artes. Não é distinguida como a Literatura ou o Cinema pura e simplesmente porque é uma habilidade necessária para se ser bom em todas (?) elas. Será uma macro-Arte, uma forma essencial, primal, para todas as outras? Escrevo isto a propósito da segunda longa de David Oelhoffen, um filme francês com uma conhecida estrela do Cinema, Viggo Mortensen, baseado num conto de Camus e intitulado Longe dos Homens.

A capacidade de um artista em contar uma boa história não se baseia numa receita. Cada um tem a sua individualidade. Para David Oelhoffen começa no título do filme, continua no cenário e acaba no enredo – pelo menos da forma como o vi. O protagonista, um reformado Comandante militar interpretado por um fabuloso Viggo Mortensen, vive só e isolado numa paisagem desoladora na Argélia de 1954, em plena Guerra de Independência. Ganha a sua subsistência dando aulas de Escola Primária a jovens residentes. Um dia, um soldado francês deposita um homem à sua porta que deverá levar até uma cidade próxima para que seja executado por um crime que efetivamente cometeu. O próprio “criminoso” reforça que Viggo o deverá entregar – por razões que serão tornadas óbvias no filme.


Por várias razões (duas delas óbvias) este Longe dos Homens fez-me lembrar do romance tornado filme A Estrada de Cormac McCarthy. Em ambos existem dois homens que caminham, sós, numa paisagem desoladora, erma, privada de vida (leia-se de água e árvores), valendo-se da sua humanidade para sobreviver. Contudo, neste Longe dos Homens (um título pejado de Geografia mas que sublinha a metáfora da proximidade) as relações que se estabelecem entre seres humanos são o motivo e motor da narrativa. O mundo é apenas cenário e nós actores das nossas próprias vidas, valendo-nos do que somos uns para os outros para sobreviver à omnipotência gelada da natureza. Este é claramente um filme Humanista. Um filme que descreve de forma sublinhada a necessidade que o ser humano tem de ter, a coragem que tem de ter, para coabitar com outros homens. Não somos ilhas. Não vivemos muralhados no nosso reino. Por isto, este é um dos meus grandes filmes deste ano. A ver!

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