São bem conhecidos os estigmas do Cinema Português e da relação que temos com o mesmo. Provavelmente é apenas reflexo do modo como lidamos com tudo o que é nosso. Uma relação amor/ódio difícil de explicar mas fácil de entender - principalmente para nós, lusos. É muito complicado arrastar portugueses para irem ver um filme com origem nas nossas fronteiras. Na cabeça da maior parte de nós a 7.ª Arte Lusa é considerada hermética, pedante e demasiado "artística". Mais devedora à escola autoral francesa do que a qualquer outra, fomos acumulando obras ao longo do pós-25 de Abril que, regra geral, afastaram muitos portugueses do Cinema falado com o nosso sotaque. Não estou aqui a defender nenhuma inclinação interpretativa. Mas acho que os números falam alto demais. E os culpados são vários, a começar nos autores, passando por investidores, governos e, claro, audiência, que cada vez é menos audaciosa no experimentar da Arte.
Dito isto, não vejo com maus olhos sucessos como o do remake do Pátio das Cantigas, que já é o filme português com mais espectadores nas salas no pós-25 de Abril. Sublinho enfaticamente: quem sou eu para julgar o que se quer ver no cinema? Vão, crescei e multiplicai-vos. Contudo, gostava de também ver muitos portugueses a ir ver este soberbo e enorme As Mil e Uma Noites vol. Um, O Inquieto, de Miguel Gomes. O realizador e este primeiro filme de uma trilogia - os restantes estrearão antes das eleições legislativas deste ano - foram fortemente aclamados pela critica no Festival de Cannes, esse bastião máximo da qualidade do Cinema Internacional, ovacionado pela qualidade, pelo esplendor, por se tratar de um dos primeiros filmes a tratar da crise que afligiu o nosso país e o mundo no pós-crash de 2008. Este é um filme com essa actualidade e que escolhe um prisma muito do meu agrado para tratar deste tão importante assunto: o do contador de histórias.
Depois de um soberbo prólogo, Miguel Gomes aproveita para espetar uma ferroada aos juízes do Cinema Português e segue para um dos mais antigos livros de histórias da humanidade, As Mil e Uma Noites, aquele protagonizado pela maior contadora de histórias da História, Xerazade. Gomes aproveita-se da fábula para explorar a realidade do nosso país neste últimos quatro anos. E escolhe a sátira, o humor e o drama para entretecer um todo coeso e robusto, de uma qualidade raramente vista no Cinema Internacional. Depois de sair da sala tive orgulho na existência de um compatriota com a capacidade e arte para elaborar esta obra prima (com um único defeito: é benfiquista) . E mais vos digo: Gomes é além de um domador da 7.ª Arte, um exímio controlador da história, do argumento, como é conhecido o Cinema. Cada um dos capítulos (sim, porque são diferentes contos) é uma original reviravolta, uma jocosa análise do nosso país, das nossas gentes, mas com uma universalidade que transporta esta narrativa para lá das fronteiras deste pequeno rectângulo. Gomes também mistura o documentário com o seu contar de histórias, actores profissionais com não profissionais, num elogio à narrativa cinematográfica em todas as suas formas e feitios. Já aqui tinha dito que, muito provavelmente, já tinha escolhido o melhor filme do ano mas, depois deste a duvida começou a instalar-se. É esperar pelos restantes dois.
Já agora... antes de irem votar nas próximas eleições de outubro? Será melhor ganharem umas horas a ver este soberbo As Mil e Uma Noites, volume um, O Inquieto. O Cinema Português agradece e merece. Portugal merece e agradece.
Depois de um soberbo prólogo, Miguel Gomes aproveita para espetar uma ferroada aos juízes do Cinema Português e segue para um dos mais antigos livros de histórias da humanidade, As Mil e Uma Noites, aquele protagonizado pela maior contadora de histórias da História, Xerazade. Gomes aproveita-se da fábula para explorar a realidade do nosso país neste últimos quatro anos. E escolhe a sátira, o humor e o drama para entretecer um todo coeso e robusto, de uma qualidade raramente vista no Cinema Internacional. Depois de sair da sala tive orgulho na existência de um compatriota com a capacidade e arte para elaborar esta obra prima (com um único defeito: é benfiquista) . E mais vos digo: Gomes é além de um domador da 7.ª Arte, um exímio controlador da história, do argumento, como é conhecido o Cinema. Cada um dos capítulos (sim, porque são diferentes contos) é uma original reviravolta, uma jocosa análise do nosso país, das nossas gentes, mas com uma universalidade que transporta esta narrativa para lá das fronteiras deste pequeno rectângulo. Gomes também mistura o documentário com o seu contar de histórias, actores profissionais com não profissionais, num elogio à narrativa cinematográfica em todas as suas formas e feitios. Já aqui tinha dito que, muito provavelmente, já tinha escolhido o melhor filme do ano mas, depois deste a duvida começou a instalar-se. É esperar pelos restantes dois.
Já agora... antes de irem votar nas próximas eleições de outubro? Será melhor ganharem umas horas a ver este soberbo As Mil e Uma Noites, volume um, O Inquieto. O Cinema Português agradece e merece. Portugal merece e agradece.
2 comentários:
É sem dúvida um filme que os 3 canais nacionais deveriam ter os "tomates" de transmitir em horário nobre à hora das novelas para abrir os olhos ao povo português.
Adorava que se fizesse uma adaptação a BD desta trilogia.
Obrigado pelo comentário. É um filme poderoso, cheio de sátira acerca do nosso cenário atual. Uma BD é uma ideia interessante. ;-)
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