Eden de Mia Hansen-Løve

A juventude é uma armadilha. Quer se tenha uma má ou uma boa, uma assim-assim ou modesta, as recordações (ou ausência delas) são uma armadilha que nos pode arrastar pela vida na esperança de recuperar esse tempo. Um tempo diferente, onde, caso tenhamos tido sorte de berço e circunstância, nos podíamos abandonar às nossas paixões, quer fossem elas materiais, quer outras pessoas. O exagero, a entrega completa, são parte fulcral de algumas vivências de juventude. As noites mal dormidas, os amores fugazes, o sexo sem compromissos ou esperança de futuro, apenas a entrega aquele momento. A música é parte essencial do abandono de  muitos de nós na juventude. Não só aquela que ouvimos e que gostamos, mas aquele a que dançamos, a banda sonora das nossas noites, dias, romances, recordações, mulheres, namoradas, amantes.

(nota - a partir daqui existem pequenos spoilers)

Eu nunca fui DJ e gostava de o ter experimentado. O protagonista deste maravilhosos Eden de Mia Hansen-Løve foi-o, com intensidade e até o limite do suportável. O filme inicia-se em 1992 e continua, inexorável, porque o avanço do tempo é inexorável, até 2013. Acompanha vários jovens e um em particular, perdido na sua melomania, enquanto tenha ganhar a vida na cena de música Garage. Como tudo no mundo, existem picos e quedas na relevância das produções dos homens. O que Mia faz é acompanhar de forma (nada) desapaixonada o percurso destes jovens ao longo de duas décadas. Uns vão-se ficando pelo caminho, casam e têm filhos, encontram outras paixões, mas o protagonista continua teimosamente na sua paixão, a música, o Garage, mesmo anos depois de qualquer relevância.

Mia Hansen-Løve parece ter uma obsessão, ou melhor, uma opinião em relação a um assunto em particular. Já no seu anterior e também muito bom Amour de Jeunesse, existia um casal de jovens apaixonados e a câmara e história de Mia acompanhava-os ao longo da passagem dos anos. Nesse tempo que avançava, um permanecia ancorado a uma certa forma de ser jovem. A mulher da relação, por seu lado, queria avançar (crescer?). Não um crescer chato, aquele que muita história pinta como sendo classe média e acomodado, mas maduro, sólido, substancial. Mia Hansen-Løve regressa a esse tema neste Eden e, uma vez mais, é o homem que não quer abandonar as recordações de juventude. Coincidência?

Um filme absolutamente imperdível para uma geração. Bem vistas as coisas, e tal como disse um amigo meu no outro dia, os 40 são os novos 20. Se calhar Mia Hansen-Løve tem razão.

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