Convergence, a primeira semana



Nota: o texto tem pequenos spoilers

A DC Comics, editora norte-americana de super-heróis, costuma fazer destas coisas: baralhar e voltar a dar. Desde finais da década de 50, quando decidiu recomeçar do zero todos os seus mais conhecidos personagens, que isto transformou-se num ritual. Foi uma Crise em Terras Infinitas, seguida de uma Hora Zero e depois de um Flashpoint. Em cada uma destas transformações muitas foram as histórias que ficaram inacabadas, muitos foram os fãs desgostosos por verem algumas das versões dos seus personagens serem deixadas para trás. Eu já fui um deles e tenho falado disso (vejam aqui, aqui e aqui). Depois de cada nova versão, as antigas iam ficando para trás, por vezes regressando de forma tímida. Aliás, parte do entusiasmo de ler DC Comics residia na esperança e ansiedade de ver se o antigo universo regressava e em que forma. Pois bem, cá estamos outra vez e agora com Convergence, o evento que prometia o regresso de todas (sim, todas) as versões dos saudosos universos DC de eras passadas.

Convergence iniciou-se na semana passada com o número 0, no qual a mais recente versão do Super-Homem confrontava-se com um mundo estranho e senciente chamado Telos. Este mundo era composto pela amálgama de cidades providas das realidades que morreram nos vários eventos da DC Comics ao longo dos seus 75 anos de história(s). As cidades tinham sido extraídas dos seus universos moribundos por um dos mais antigos, maiores e temíveis dos inimigos do Homem de Aço: o robô Brainiac, mestre de Telos. Colocadas sob cúpulas como se se tratassem de aquários opacos, os residentes ficaram isolados das outras cidades recolhidas e também da realidade. Os heróis, agora sem poderes, aprenderam a viver no novo status quo mas, como é costume nesta literatura, a paz não é duradoura. Telos, na sequência da misteriosa ausência do mestre, decide abrir as cúpulas e "incentivar" os super-poderosos dos vários mundos a lutarem entre si. A cidade vencedora será a única sobrevivente. Darwinismo meets Mortal Kombat.

A pergunta que está sempre na mente de todos os já vetustos e experimentados fãs de BD de super-heróis quando confrontados com mais um mega-evento destes é: valerá mesmo a pena? Eu, que já não sou moçoilo nestas andanças, acho que é um pouco da coluna a) e um pouco da coluna b). Curiosamente, as minisséries paralelas são, pelo menos no que respeita a esta primeira semana, bem mais interessantes que a principal. Enquanto Convergence número 1 é apressada e pouco inspirada, as minisséries auxiliares onde os confrontos vão ter lugar, estão bem talhadas e, acima de tudo, cheias de nostalgia e amor pelos universos antigos. É nestas que aqueles mais saudosos de mundos anteriores poderão regressar e rever velhos conhecidos, retomando histórias que tinham ficado por resolver. Se isto tudo vos parece demasiadamente insular e dedicado ao fã ferrenho tenho uma má (ou boa) notícia: sim, é. Por mais que os autores se esforcem (e não o fazem muito) Convergence e respectivas séries é para o letrado nas lides do multiverso septuagenário da DC Comics. Isso vale para todo o evento. Contudo e como já referi, enquanto a minissérie principal sabe a pouco as outras são verdadeiros cobertores já roçados mas deliciosamente quentinhos.  Não há aqui literatura de topo ou sofisticação intelectual, apenas entretenimento e saudade.

Na primeira semana regressa o Universo DC que o actual substituiu em 2011 - basicamente aquele que eu adorava, isto se também incluirmos o pós-Crise e pós-Hora Zero o que, para mim, é tudo o mesmo. Não vou aqui enumerar os momentos deliciosos de saudade que foram resolvidos. Os que conhecem e gostam sabem do que falo. Os outros talvez possam vir a conhecer. A princípio, principalmente depois de ler a minissérie principal, estava decepcionado. Agora, aguardo para ver. Esta primeira semana valeu a pena.

2 comentários:

Paulo Costa disse...

Pá, entre coluna A e coluna B... o mais importante é: o que é que vai sair daqui? É que eu gostava de algumas coisas que existiram na DC no pós-90s, começando pelo Resurrection Man e pela JLA do Morrison. E não achei muita piada ao New 52, apesar de ter tentado gostar do Demon Knights e de Authority... perdão, Stormwatch... perdão, o que era aquilo mesmo?

O que sair daqui vai ter que prestar menos atenção à cronologia, ignorar completamente o politicamente correcto (pode haver um Flash negro, mas não é preciso roubar o Wally West) e preocuparem-se mais com as histórias de um modo geral. O New 52 foi uma espécie de Ultimate DC, quando o universo Ultimate original já tinha passado de moda.

SAM disse...

Obrigado, Paulo, pelo comentário. logo se verá o que sai e estou curioso. Estas séries valem o que valem e, de facto, é importante saber o que a DC pretende fazer nos pós Convergence. Nem todos sairemos agradados, com certeza. Cá aguardamos.