Os filmes dos Irmãos Coen são filmes americanos, impregnados de cheiros e sabores da Route 66, dos sons do Jazz e, no caso deste seu último, folk. São películas que, na cadência, ritmo, imagem e paisagens louvam o Deus da Americana, esse intangível que representa a totalidade da mitologia deste país gerador de ódios e amores de igual intensidade. Este filme belíssimo, poesia cantada e declamada de tons quase monocromáticos, ascende ao panteão daqueles que os irmãos debitaram com amor e mestria, pelo menos da maneira como eu vejo as coisas.
Este A Propósito de Llewyn Davis é uma nova Odisseia (à semelhança da do Brother, where art thou? e, claro, da fonte inicial, a do Homero), de um homem parado no tempo e agarrado às fontes do passado, as melhores, tentando defender um estilo de vida superado pelos tempos modernos vistos, por ele e por outros do seu métier e disposição de alma, como tempos inferiores (como não poderiam deixar de ser, se a música que eles fazem planta canções de todos os sons, enquanto que a moderna limita-se a 3 acordes?). Llewyn Davis, ou Oscar Isaac, viaja pelas estradas e paragens dos EUA na busca do seu lugar ao sol, não parando por nada nem ninguém, de forma obsessiva e egoísta. Nestas encontra profetas e responsabilidades, gatos e filhos, dedicando a todos o mesmo nível de atenção e dedicação, um destacado segundo lugar face à sua idolatria, sangue e alma, a música. Não existe espaço no coração para mais nada além desta entrega absoluta e tragicamente condenada ao fracasso. Este não é o sonho americano!
Inside Llewyn Davis é um filme recheado dos lugares comuns dos irmãos Coen, tal como já o disse no primeiro paragrafo. Escrito e realizado por ambos, é-nos oferecida a paisagem fria e castradora que já vimos em Fargo, por exemplo, a mesma que Cormac McCarthy também idolatra na sua prosa texana. Aparece-nos um papel que apenas poderia ser feito e desenhado para o grande John Goodman, um homem derrotado pelo peso da sua própria irredutibilidade. E temos Oscar Isaac, um novo boneco dos irmãos, que parece ter sempre existido nos seus filmes, um homem que não é um bom homem mas que às vezes até o é.
E, depois, existe a verdadeira estrela do filme. O Gato. Finalmente alguém percebeu que os gatos, sem fazer coisas engraçadas e simpáticas, sem fazer malabarismos (para além daqueles que eles fazem melhor que ninguém), são os melhores companheiros para as odisseias dos homens. Vida longa ao Gato!
Sem comentários:
Enviar um comentário