Não me lembro desta perspectiva. Ou melhor, não conheço nenhum filme
que tenho escolhido ver o final da 2-ª Guerra Mundial pelo lado Alemão, dos
derrotados, dos que viam em Hitler um
visionário e salvador da pátria. Mais ainda quando o ponto de vista escolhido é
o da inocência da juventude, desde a fase da infância até a adolescência.
Lore
centra-se na jovem protagonista que dá título ao filme mas abraça também perspectivas
mais jovens, a dos irmãos da personagem principal. Mãe e Pai, adultos apoiantes
de Hitler, são chamados pelos aliados vencedores a pagar pelos crimes
praticados por si e pelos seus conterrâneos, querem tenham tido conhecimento
quer não. Face ao destino dos seus progenitores, os filhos são deixados à sua
mercê enquanto se encaminham, por uma Alemanha repartida entre os Aliados, em
direção à casa de uma familiar. A meio do percurso são salvos das perguntas
incomodativas de Americanos por um Judeu que decide, assim, acompanhá-los no
resto do caminho.
Este é o segundo filme que vejo este ano em que nos é dado uma
perspectiva diferente sobre um momento histórico do qual apenas geralmente vemos
um dos lados. Primeiro, foi Barbara (vejam
este post), no qual se passava para o
lado de lá do muro de Berlim durante o
período da Guerra Fria (uma situação também
focada em As Vidas dos Outros de Florian Henckel von Donnersmarck), e
agora este Lore, curiosamente também
protagonizado por uma mulher. As coincidências acabam por aqui, mas tem-se a
noção de que existe um esforço para mudar a narrativa, não como instrumento de
desculpa, mas como “factual”, a beirar o documental. Lore ganha ao emular outras odisseias, outros percursos por paisagens
tocadas pela guerra (Apocalypse Now),
escolhendo a viagem, o périplo, como instrumento de expurgação de pecados e de provocador
de epifanias. Trata-se de um dos mais reconhecidos instrumentos narrativos, mas
que em Lore não sabe a comida
requentada, antes consegue, num tema tão sensível, abordar a questão de forma
descomprometida e, como já o disse, com laivos documentalistas. Ficamos com
curiosidade quanto ao que Cate Shortland
vai continuar a fazer.
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