É uma casa portuguesa, com certeza, e em Paris, França.
A Gaiola Dourada, realizado
por um luso-francês, descendente de emigrantes, é
basicamente o maior sucesso do Verão nas salas de cinema portuguesas. Não só o
tema é interessante e (arrisco-me dizê-lo) relevante para a maior parte de
todos nós (assunto rebatível), mas a escolha da altura do ano para a sua
exibição não é desprovida de timing. Por
outro lado, oferece uma espécie de cinematografia que, muito sinceramente, está
muito, mesmo muito, em falta no panorama da 7.ª Arte em Portugal. Um filme
despretensioso sem ser inane, algo a meio caminho entre a complexidade
intelectual e insolúvel dos mais prestigiados realizadores portugueses e o mais
baixo denominador comum de comédias ou dramas cuja qualidade até a literatura
de cordel questionaria. É nessa terra média (perdoem-me o trocadilho) que está
solidamente alicerçado este A Gaiola
Dourada. E isto é um forte elogio às cerca de 2 horas que dura. O argumento
é sólido, consegue retirar umas boas risadas e os atores vão como não poderiam
deixar de ir: muito bem! Rita Blanco
e Joaquim de Almeida, os
protagonistas, provam por que são dos melhores da atualidade em Portugal (Rita Blanco, por seu lado, é
consistentemente a melhor atriz portuguesa, na minha opinião), e são
acompanhados por outros igualmente bons, portugueses e franceses, claro. Maria Vieira faz de si mesma, mas tem um
momento que envolve um chuveiro e uma depressão que são particularmente
pungentes e relevantes para uma certa geração de portugueses.
É exatamente nesta familiaridade que o filme ganha (mais para uns do
que para outros mas, ainda sim, uma familiaridade). Todos reconhecemos aquelas
figuras. O nobre e humilde casal de portugueses, que deixou o seu país para
conseguir melhores condições de vida em França, à custa de muito sacrifício
pessoal e de trabalho dedicado mas árduo. A comunidade hermética e saudosa dos
rituais que deixou no nosso país. A chico-espertisse de alguns menos
interessados no trabalho. O menosprezo por parte dos autóctones. Todos os lugares-comuns
estão encaixados neste filme mas com alma, com diálogos, situações e atores que
transformam o mundano no excepcional ou, pelo menos, no medianamente
excepcional. Não é uma obra-prima, mas é um filme bom o suficiente para nos
divertir. E falta isto no cinema em Portugal. Realizadores, argumentistas e
atores esforcem-se para também
fazer coisas destas. Nós agradeceremos com os nossos euros.
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