Não de
Pablo Larraín pode ser descrito como
a mais nobre das lutas usando umas das mais impuras das armas. Também pode ser
descrito em como todas as lutas têm o seu lado mais realista. Aquele que não é
escrito em artigos logo após a vitória final, em letras de músicas exultando a
alegria da libertação.
O filme tem lugar nos finais da década de 80 do Chile, aquando da
eleição que significou o fim da sanguinária ditadura militar de Pinochet. Essa
eleição teve a mais pura das perguntas, um simples Sim ou Não que respondia à
questão: Deverá Pinochet continuar no poder. Mas, acima de tudo, é do modo
(insólito) como um publicitário, filho de exilados do regime, decide colocar ao
serviço da luta pela liberdade os seus conhecimentos da arte de venda de um
produto e construir uma campanha de 15 minutos diários com o intuito de fazer prevalecer
o Não.
O final da história já o tempo e os livros que o relatam
encarregaram-se de descrever, mas não como neste filme. A estética é igual a um
documentário familiar, realizado em câmaras de filmar que as casas mais
abastadas na década de 80 tinham, vermelhos, laranjas e amarelos saturados,
desfoque e com uma considerável quantidade de grão. A história é um relato
desapaixonado da luta do jovem publicitário para fazer passar a mensagem, não
só para aqueles que necessitavam de ser convencidos da emergência da vitória do
Não, como também dos “clientes”, os partidos da oposição e essencialmente de
esquerda (dos mais diversos extremos), que precisavam vencer o seu próprio
senso e lugares comuns. Aqui também reside a universalidade da mensagem do filme,
não só no lado da necessidade imperiosa de liberdade, como também em como, pela
necessidade de a defender, temos de nos esquecer de um pouco de nós no caminho,
sacrificar as nossas pequenas ideologias por esta, a maior e melhor delas
todas. Sem olhar para trás, por mais difícil que possa parecer. E, no final,
não é.
Não é
a mistura entre o eterno e o moderno numa película saturada e cheia de grão. Um
filme que relembra a real razão porque não nos devemos esquecer.
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