Eu não sei o que escrever. Não tenho jeito. Forço-me no
papel. Tropeço no teclado. Erro muito. As ideias não se formam com a harmonia
da eloquência. Forçar é sempre o caminho do idiota. Deveria parar de querer mas
escrever é escrever. Continuar. Quase sem pensamento até o pensamento surgir. Sem
pensar muito nisso.
Falta-me sabedoria. Deveria agarrar no caminho do comboio e
segui-lo, pela rede, até á última estação. Como aquela mulher, Maria Carlota, a
que se ria, mesmo quando a tragédia tanto a marcou mas a vida tanto a presenteou.
Como se uma e outra pudessem ser duas entidades separadas e unívocas. Mas nela eram-no
e em paz. Até o ponto em que a paz pode existir numa vida que existe. Nelas
Maria Carlota tinha feito a vida.
A sua história é um monte de lugares comuns. Como todas as
histórias. A vida começou e depois acabou. Não houve nenhuma lição de moral
excepto as que houve. O que interessou foi o que aconteceu pelo meio. Já sabem.
Tragédias. E coisas boas que se lhe seguiram e lhe antecederam. A tragédia,
para quem conhece Maria Carlota, não interessa. Nunca interessou, porque ela
continua a rir. Não aconteceu nada que tenha desperdiçado o dinheiro gasto na
previsão de boa vida que a cartomante lhe vaticinou. Há pessoas assim.
Clarice Lispector
é uma escritora brasileira porque na Ucrânia,
onde nasceu, nunca saiu do colo da mãe. Morreu cedo demais em 1977. Tão cedo
que as obras insistiram em continuar a sair mesmo depois de morta. Há pessoas
assim.
Descobri-a agora. E agora está em toda a parte. A Hora da
Estrela é o meu primeiro livro mas, asseguro-vos, não vai ser o meu último. Acho
que isso é muito bom para mim.
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