Sessões à Quinta

"O Couraçado Potemkin"
Sergei Eisenstein
1925
75 Minutos.


Na passada quinta-feira, a noite foi de estreias. Inaugurámos, simultaneamente, o cinema mudo e o cinema russo, nas nossas sessões.

O povo é como um oceano: uma enorme energia que quando se revolta é imparável. Este parece ser o mote que, Sergei Eisenstein, quer deixar no início de "O Couraçado Potemkin", ainda antes de citar Lenin.

Em 1905, houve de facto uma revolta num couraçado da armada russa chamado Potemkin, devido às más condições a bordo. A revolta terá estado, posteriormente, na origem de violentos confrontos na cidade de Odessa. Estes acontecimentos foram vistos, pelo novo regime pós-revolução de 1917, como uma das primeiras manifestações do que veio a acontecer doze anos depois: a Revolução Russa. Os marinheiros deste navio tinham ficado para a história como exemplos de coragem e como heróis.


Estes factos são o ponto de partida para um dos mais influentes filmes de propaganda ideológica da história do cinema.

Em 1925, por encomenda do novo regime, Sergei Eisenstei realiza este filme de homenagem e de celebração desta acção revolucionária. Mas o filme é simbólico do início ao fim. Tudo é outra coisa, como sempre acontece na propaganda, mais ou menos artística: o navio que representa toda a sociedade russa e as suas classes sociais em conflito; os marinheiros que de facto são o povo; os oficiais que representam a nobreza; ou na famosa cena da escadaria de Odessa em que, o massacre dos militares contra o povo indefeso, a que nem as crianças escapam, representa a brutalidade e a crueldade do Czar. E estes são apenas alguns exemplos dos simbolismos que podemos descobrir neste filme.

A partir de um acontecimento histórico, este filme retratou e sintetizou simbolicamente o processo revolucionário, ao serviço da propaganda do regime.

É um documento histórico do ponto de vista político, mas também do ponto de vista cultural e artístico. Eisenstein foi um dos primeiros criadores da linguagem cinematográfica. Foi estudado, seguido e até copiado, por todo o Mundo. Foi original, criador, inovador e deixou técnicas e olhares novos nesta arte que, na altura, ainda dava os primeiros passos.

Para quem quiser ver o filme, ele está disponível para download aqui.

Sim... Ou melhor, não... Não há notas para este filme. Depois de confrontos violentos entre os membros deste grupo de pseudo-crítico-cinéfilos, (quer dizer... com muito tempo livre para dizer umas coisas), inspirados claramente pelo filme e pela presença, na sala, de várias classes sociais antagónicas (os bdsistas, os lírico-qualquer-coisistas e os cinéfílistas-compulsivistas), decidimos que não daremos notas a filmes anteriores a 1935. As coisa estavam a aquecer e ainda havia umas escadas para descer. Achámos (e somos bons a achar) que, para uma noite só, já chegava de massacres. O ano de 1935 foi consensual, dada a urgência de umas horas de sono.
Resta-nos informar, porque nos parece oportuno, que neste grupo existe grande mobilidade social. Como exemplo disso, pode referir-se que, durante os confrontos, alturas houve em que nenhum de nós sabia de que lado estava. Chegámos a ser um bocadinho de tudo e, até mesmo, nada de nada, em menos de 5 minutos. Como é de esperar deste tipo de pessoas, a data de 1935 pode ser revista em qualquer altura desde que isso nos seja útil.

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