Dois poemas de VÍCTOR BOTAS
Oviedo, 1945-1994
Trad. Joaquim Manuel Magalhães
"POESIA ESPANHOLA DE AGORA"
RELÓGIO D'ÁGUA
I
Inclino-me diante dessa página que nunca
escreverei. É tão difícil isso
de transformar em símbolos as coisas,
em magia os momentos, em som
aquele corpo que pude ter amado
e que não amei. Nas noites de insónia,
uma pergunta talvez sem possível
resposta me atormenta: o que digo
de que há-de servir-me? Tu não me escutas.
II
É possível que não tenhas dado conta. Mas
ontem, por um instante, estive quase
a embebedar-me por te ver. (Que espécie
de álcool haverá nos teus olhos
pergunto-me, procurando
recordar a hora, aquela mesa,
com um par de cafés, e a magra
longitude das tuas mãos). Não, não tenhas medo,
que não te farei a corte: não poderia
correr tanto
risco:
como tantas
vezes consegui demonstrar,
sou muito cobarde, amiga.
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