Uma BD aqui, outra BD ali, 31 - Liga da Justiça

Há quem diga que os floppies estão a morrer - panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem. Espero que não porque adoro devorá-los! De vez em quando, escrevo umas breves palavras sobre alguns que gostei.  Não são nem melhor nem pior que outras coisas.

Este post foi possível graças ao trabalho da Lost World Comics
(cliquem no nome para irem à página de FB deles e façam as vossas encomendas)

JLA Incarnations números 1 a 7 (2001) de John Ostrander e Val Semeiks (DC Comics)

O Uma BD Aqui, Outra BD ali de hoje é um pouco diferente. Hoje decidi não fazer incursões por BDs recentes, mas antes viajar ao passado (2001-02) e falar-vos de uma mini-série que há anos andava a querer ler. Este JLA Incarnations fez parte de um período áureo do historial da Liga, quando era escrita, no título principal, pelo escocês Grant Morrison. De modo a capitalizar desse sucesso, iam saindo vários títulos paralelos, mini-séries, maxi-séries, one-shots, etc, tudo o que desse para esmifrar a carteira de fãs incautos (sim, eu sou um deles).  No meio dessa barragem de títulos, vários tinham uma qualidade bastante aceitável - recordo-me do DC 2000, por exemplo, um crossover entre a Liga e a Sociedade da Justiça. Este que aqui vos trago tinha-se-me escapado (ou a carteira esmifrado), mas graças aos fabulosos préstimos da loja Lost World Comics, e à sua capacidade de encontrar números antigos dos EUA, pude finalmente o ler. E que delícia de leitura foi esta.


O conceito era básico. Durante sete números, John Ostrander na escrita e Val Semeiks no desenho levavam-nos a visitar diferentes eras da vida da Liga. O conceito era para ser entendido por qualquer um que nunca tenha lido nada das personagens e, de facto, a leitura é mais amigável do que o costume - ainda que, como sempre com os supers, ajuda que conheçam um pouco da História das histórias. Antes de mais nada, há que tecer os merecidos elogios à equipa criativa. Ostrander é conhecido por trabalhos extraordinários na escrita de títulos como The Spectre, Martian Manhunter e do lendário Suicide Squad (sim, o que inspirou o filme). A sua capacidade de misturar relevância social, entretenimento e exploração de personalidades, marcaram várias personagens e muitos leitores - quem não se lembra da fabulosa transição de uma Batgirl para Oráculo, uma evolução que tinha tanto de humana como de feminista? Semeiks é menos conhecido e (talvez) menos querido, mas este que vos escreve tem um enorme fraquinho pela sua arte. Agraciou a Liga de Morrison, numa das mini-séries/eventos que melhor se escreveram sobre esse grupo de supers e uma enorme homenagem ao Super-Homem, DC One Million. Desenhou Lobo, Etrigan, o crossover da Liga com os Wildcats, o DC 2000. O seu desenho é muito ao estilo  dos anos 90, mas cinético, carnavalesco, caótico. Uma delícia de BD, com um piscar de olho aos clássicos.

O talento de ambos está bem patente em todos os capítulos deste JLA Incarnations. Ostrander não se limita a fazer o trabalho de encomenda, antes procurando sempre um ângulo interessante para abordar e acrescentando pormenores deliciosos ao historial. No primeiro número, centra-se na Liga original e no confronto geracional com a Sociedade da Justiça. O segundo na adição do Batman e do Super-Homem à formação inicial, o confronto de personalidades entre estas duas figuras lendárias e a sua relevância na Liga. O terceiro acompanhou os dias da era do satélite, seguido, no quarto, do fim dessa mesma. O quinto focou, ao mesmo tempo, a Crise nas Terras Infinitas (com uma das melhores e mais sintéticas explicações desse evento) e a Liga de Detroit. O sexto visitou a sequência (favorita para muitos) de J.M.DeMatteis e Keith Giffen, com uma Liga mais ao estilo sitcom. E, finalmente, no sétimo, fecha-se o ciclo, com a Liga de Morrison a enfrentar a ameaça original que criou o grupo vários anos antes. 

Estes contos não só são um repositório de novas ideias, que seriam aproveitadas por escritores famosos que se lhe seguiram (Geoff Johns, por exemplo - descubram porque é que o digo), como uma viagem nostálgica de valor acrescentado. Para os saudosistas da Liga-sitcom aconselho vivamente a revisitarem os esquemas do Gladiador Dourado e do Besouro Azul, do Guy Gardner fofinho e do governador de BiaylaRumaan Harjavti. E gosto especialmente da adição à mitologia da Liga do Tiranossauro falante que lança raios dos olhos de nome Fire-Eye (pura pornografia Silver Age).

Uma delícia nostálgica.

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