Há quem diga que os floppies estão a morrer - panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem. Espero que não porque adoro devorá-los! De vez em quando, escrevo umas breves palavras sobre alguns que gostei. Não são nem melhor nem pior que outras coisas.
Fantastic Four (2018) número 5 ou Fantastic Four (1961) número 650 de Dan Slott, Mike Allred, Adam Hughes e Aaron Kuder (Marvel)
Tenho um segredo para vos contar: eu adoro o Quarteto Fantástico. Quase que arrisco a dizer que é a minha equipa favorita de super-heróis. Quem me conhece e lê este Blog, sabe da minha forte inclinação para a DC. Mas o que não sabem é que comecei a ler BD graças ao Homem-Aranha e as personagens da Marvel foram, durante muitos anos, companheiros fiéis e favoritos. Um desses foi o Quarteto Fantástico, que conheci, pela primeira vez, na aventura onde conhecem os Inumanos, criada pelos eternos Stan Lee e Jack Kirby.
O conceito da família de exploradores do desconhecido, de Imaginautas, era demasiado cativante. Durante anos, pelas mãos destas duas lendas, foi, merecidamente, a maior revista de BD do mundo - descobri o quanto apenas uns anos mais tarde. Contudo, quem me cativou para sempre para esta família foi o talento daquele que, para a minha geração, é considerado um Deus: John Byrne. Graças à sua sequência de histórias, apenas eclipsada, até hoje, pelos criadores, descobri o potencial destas maravilhosas personagens. Infelizmente, criaram em mim uma exigência que nunca viria a ser totalmente saciada.
Dan Slott ainda não a saciou, mas este seu quinto número é já um ponto alto e uma promessa do que aí vem. Finalmente, Ben Grimm (O Coisa) e a sua eterna namorada, Alicia Masters, vão se casar. Este número é o conto desse casamento, do antes, do durante e do depois. O maior elogio que posso fazer ao escritor é que, no que a mim diz respeito, Slott acerta em cheio no que é necessário numa boa história do Quarteto. Antes de mais nada são uma família. Só depois super-heróis ou, aliás, nem isso: exploradores (já o disse acima, não é, seus distraídos?). O que interessa é examinar as suas personalidades, as suas manias, e o relacionamento entre todos. Sim, é sempre maravilhoso ver como Reed, Sue, Ben e Johnny irão conseguir derrotar o Dr. Destino, Galactus ou Terrax, mas o mais importante não é o destino e sim a viagem. As picardias entre o Tocha e o Coisa. O (aparente) distanciamento intelectual do Sr. Fantástico em relação a todos. A força e carisma da rocha que os une, a Mulher-Invisível (já agora, também o membro mais poderoso do Quarteto). Usando como motif a celebração desta cerimónia, Slott toca nestes pontos todos, sem descurar coração e (imagine-se) novidade. Mesmo depois de quase 60 anos, o escritor consegue escavar do fundo das personalidades algo de novo para dizer, sem deitar ao lixo o que foi feito antes (há a alusão a um outro e infame casamento de Alicia). Escreve expressando um profundo amor às personagens, que transparece para nós que o lemos. Até o aparecimento, no final, dos dois maiores adversários do Quarteto é deliciosamente kitsh e apropriado. Este quinto número está cheio de episódios que ficarão para a História do Quarteto e acho (que acho) que Stan, Kirby e Byrne ficariam felizes.
Last but by no means the least, os desenhadores. Os quatro primeiros números deste ressurgir do Quarteto não tinham sido do melhor. Por um lado, Slott não estava a escrever de acordo com o seu potencial. Por outro, os desenhos estavam apressados e fracos. Estive quase para cancelar a subscrição mensal. Eis que Aaron Kuder desenha uma boa parcela deste quinto número, acompanhado pelos veteranos Mike Allred e Adam Hughes (este que, hoje em dia, raramente desenha mais do que capas). Todos entregam trabalho acima da média e que não envergonha quem os precedeu. Kuder, em particular, de quem eu já apreciava o trabalho no Super-Homem, irá desenhar os números que se seguem e, se continuarem com ele, a sua arte é mais do que bem-vinda. É necessária.
Um número que é um elogio ao legado desta equipa. Esperemos que o futuro assim continue.
4 comentários:
Aqui no Brasil a Panini prometeu pra um futuro próximo a encadernação dos runs do Millar e do Hickman (já havia saído por aqui em revistas mensais). Particularmente, gosto muito de ambos, principalmente do segundo.
Acompanhou essas fases?
Bom dia e obrigado pelo cometário.
Acompanhei ambas. Achei ambas boas. A do Hickman gostei e confesso que terei um dia de a ler outra vez, mas achei que não era bem o Quarteto pelo qual me apaixonei. A do Millar/Hitch era grandiosa, como seria de esperar, tendo em consideração os autores envolvidos.
Tb gostei particularmente da do Mark Waid/Mike Weinrigo e até achei alguma graça à do Claremont/Larroca. A primeira era parecida com o Quarteto que aprendi a gostar, enquanto a segunda nem por isso.
Em suma, gosto de muitas sequências do Quarteto, mas fiquei influenciado pelos 300 primeiros números americanos, os quais gosto bastante. Nisso o Homem-Aranha é parecido. Sou completamente parcial pelo cabeça de Teia dos primeiros 300 e tal números.
O Quarteto do Waid também é muito bom. Por aqui, houve uma tentativa da Panini de publicar em encadernados, mas rendeu apenas 1 (já havia saído em mix mensal).
SIM, arrisco dizer que o Quarteto, o Aranha e Tales of Asgard talvez são os únicos títulos da Marvel dos anos 60 que se pode ler hoje em dia sem parecer (tão) datado.
A Marvel da década de 60 foi um momento ímpar de criatividade. Nem tudo sobreviveu bem ao tempo, claro. O Quarteto e o Aranha são exemplos que passaram esse teste. Arrisco-me ainda a incluir o Thor mais tardio de Lee/Kirby e Lee/Buscema, e ainda os Vingadores do Thomas/Buscema.
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