The Night Comes for Us de Timo Tjahjanto


Temos uma sugestão para a Netflix e para os donos do cinema Monumental em Lisboa. Porque não passar nestas salas certos filmes que parecem apenas circunscrever-se àquela plataforma de streaming? Assim, não só teríamos a sorte de ver certas películas em ecrã grande, como a Academia de Cannes não poderia retirar de competição obras financiadas por esta produtora. Porque é não vimos o excelente novo filme do irmãos CoenThe Ballad of Buster Scruggs, em sala? E porque não podemos ver este excelente e ultra-violento The Night Comes for Us? Dizemos-vos: é criminoso.

(para os que não sabem, Paulo Branco vai retirar-se da exploração das míticas salas do Monumental, onde gerações viram alguns dos melhores filmes das suas vidas - nós, inclusive. Ao mesmo tempo, Cannes retirou de competição todos os filmes que não tenham sido exibidos, pelo menos uma vez, em sala de cinema). 

Depois do sucesso (em certos círculos) de The Raid I e II, realizados pelo inglês Gareth Evans e protagonizado pelo actor Iko Uwais, o mundo descobriu o filme de acção Indonésio. O actor passou a ser ponte para a descoberta de outros realizadores, especialmente Timo Tjahjanto, com quem já tinha feito Headshot, também em exibição na Netflix (este e The Raid tivemos a sorte de ver no MOTELx). São obras que caracterizam-se por histórias simplistas, mas que encerram sempre uma camada mais profunda de reflexão social. É esse também o caso deste maravilhosamente exagerado The Night Comes for Us. Um agente de uma equipa de assassinos a soldo de chefes de tríades de droga na Indonésia decide abandonar o emprego. Tudo por causa de uma inocente adolescente cujos pais os seus chefes e equipa mataram sem piedade. Para salvar este única vida, o protagonista decide enveredar pelo caminho que o levará a confrontar-se com os antigos patrões e com um amigo que preferiu continuar a trabalhar para as referidas tríades (protagonizado por Iko Uwais, que é aqui o vilão).

O que se segue são confrontos e lutas de variante grau de acrobacia e coreografia e cujo fio de união é a extrema violência. Um aviso à navegação: este não é um filme para os mais sensíveis e para aqueles a quem sangue, tripas e ossos partidos faz confusão. Não que transforme a violência em algo mais realista (os "bons", ainda assim, safam-se de situações aparentemente impossíveis de escapar), mas também não facilita o distanciamento heróico que muitos filmes de produção Hollywoodesca possibilitam. Aqui ela é feia e não disneyficada. Aqui ela celebrada não pela beleza mas pela feiura.

Timo Tjahjanto recorre-se de uma realização dinâmica, com a câmara a acompanhar o movimento dos lutadores ou recorrendo a uma proximidade quanto baste, que coloca o espectador dentro do ballet da luta, partilhando connosco a violência psicopata. Isto é um olhar cru e cruel sobre o modo como a Humanidade é capaz de exercer actos hediondos uns aos outros. É, de facto, uma pena que nunca veremos este filme em sala de cinema. Senhores do Monumental e Netflix, façam qualquer coisa pelos que gostam de ir ao Cinema. 

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