Lady Bird de Greta Gerwig

É tradição de uma cinematografia dita independente que certos autores enveredem por narrativas semi-autobiográficas onde o protagonista atinge algum tipo de crescimento  emocional (o chamado coming of age movie). É esse o caso deste Lady Bird da estreante (na realização) Greta Gerwig - conhecida como actriz pelos filmes Francis Ha de Noah Baumbach, onde era uma proto-mulher-ao-estilo-do-seu-agora-já-não-ídolo-Woody-Allen, ou Mulheres do Século XX de Mike Mills, em que fazia parte de um agregado familiar quase só de mulheres a criar um jovem rapaz.

Ao inscrever-se nessa tradição, Lady Bird não oferece qualquer tipo de novidade em relação a outras obras. Neste caso, segue o caminho de uma jovem excêntrica com inclinação artística (Saoirse Ronan) e da sua vida na ilha suburbana que é a cidade de Sacramento na Califórnia e, acima de tudo, da relação com a sua mãe, protagonizada pela excelente Laurie Metcalf (que conhecem como a também mãe de Sheldon do The Big Bang Theory). Excepto por algumas idiossincrasias narrativas e de personalidade, este filme não envereda por caminhos novos, antes consolida-se em lugares comuns já previamente trilhados. Não existe nesse facto nada de negativo e peço desculpa se o fiz parecer. Baseia-se na força do argumento, que é uma lente virada para a vida da realizadora, e acima de tudo, nas prestações das várias actrizes, que se entregam de forma cativante. São elas as verdadeiras estrelas deste simpático filme e os homens são antes (desta vez e finalmente) meros artifícios narrativos para atingir um fim. Aliás, é neles que (intencionalmente ou não) o filme tem uma das falhas, já que pouco são mais que meros arquétipos masculinos de o namorado-fofo, namorado-cool, pai-ternurento. Por outro lado, não parece-me nada mal, já que o sexo feminino tem sido sistematicamente tratado da mesma forma em (demasiadas) narrativas menos ambiciosas.

Espera-se, ainda assim, por mais ambição numa obra que é candidata a Óscar de melhor filme (e sei que estou numa de contradizer-me, mas se calhar não deveríamos esperar assim tanto). Principalmente, quando filmes como The Florida Project ou Blade Runner 2049 são completamente esquecidos numa categoria onde (e eu não gosto de dizer estas coisas mas aqui vai) mereceriam estar muito mais - e até mesmo vencer, mas aí já são outros quinhentos. 

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