O festival MOTELx 2017, a decorrer entre os dias 5 e 10 de Setembro, é um dos momentos cinematográficos mais esperados da rentrée e do Acho que Acho. Vamos lá estar e tentar vos dar uma apreciação dos filmes que teremos a sorte de ver. Passem por aqui todos os dias!
O filme de abertura do MOLTELx tem uma temática apropriada. Por razões que qualquer sociólogo ou psicólogo poderá elaborar, existe uma faixa do entretenimento dedicada à nostalgia. Filmes, livros, TV, aludem a fases da vida que disseram-nos muito, geralmente a infância e a adolescência. Foi nestas fases que conhecemos amigos para a vida. Foi nesta fase que cultivamos os gostos que nos acompanham. É curioso que o entretenimento que alude a este passado pareça surgir ao mesmo tempo, vindo de diferentes autores e mesmo de diferentes fontes. A série de TV Stranger Things recorda a década de 80, livros de BD, filmes de terror, e alicerça-o na relação de amizade de quatro amigos geek. Uns meses antes apareceu, na editora de BD Image, a obra Paper Girls, também passada na década de 80, desta vez com quatro amigas, e envolvendo monstros, realidades paralelas e viagens no tempo. Ambas são anos 80 vintage. Em ambas os autores recordam-se da sua juventude e fazem-nos ter saudades da nossa.
Super Dark Times de Kevin Philips, filme de estreia do MOTELx, vem da mesma fonte mas com uma perspectiva menos delicodoce. O pano de fundo é o início da década de 90, a relação entre quatro amigos rapazes, a descoberta do amor e um segredo terrível. Enquanto Stranger Things e Paper Girls envereda pelo entretenimento puro e descomprometido, Super Dark Times prefere uma abordagem negra, que não tem nada de fantástico e muito de real. O que começa de forma inocente acaba por enveredar pelo caminho mais maduro, questionando esse tempo nostálgico que recordamos muitas vezes com lentes cor-de-rosa. A realização do estreante Kevin Philips faz viajar para geografias indefinidas, em que a memória é mais um empecilho que uma ajuda. A banda sonora recorda os fantasmagóricos acordes tecnológicos de Carpenter mas sem a aludir especificamente.
O filme, infelizmente, não funciona na perfeição, por uma mistura de factores. Um argumento que demora a perceber para onde quer ir e personagens que, apesar do esforço dos jovens actores (e são maravilhosos), parecem presas a um mundo de inacção e medo. Este medo e esta inacção poderiam funcionar (como é natural que aconteça em thrillers) mas em Super Dark Times acabam por coxear a narrativa, que arrasta-se sem rumo. Apenas no último terço o filme assume a sua vertente de terror (não vou dizer de que subgénero). Imagino que esse fosse o objectivo do realizador. Aludir a uma adolescência naif, onde o mundo que julgávamos ser de uma forma acaba por ser de outra. Contudo, o que poderia ser uma escolha narrativa interessante, arrasta o filme para a incerteza e mensagens contraditórias. Um começo interessante mas não muito auspicioso para este realizador.
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