Steven Soderbergh estava afastado do Cinema. Disse mesmo que não queria regressar. Queria agora dedicar-se à TV. Produziu e realizou a brilhante série The Knick, focada num hospital em Nova Iorque no início do século XX. Pelos vistos algo ou alguém (ou os dois) conseguiram mudar as ideias ao realizador. E ainda bem para nós porque este Logan Lucky não seria o mesmo filme se não tivesse Soderbergh por detrás da câmara. Não é apenas ele a estrela da banda mas é mais importantes dos elementos. Os outros são os actores escolhidos a dedo. Uma passadeira vermelha de talento.
A história é terreno familiar para Soderbergh e companhia: um heist movie (todos reconhecemos Ocean's 11, 12 e 13). Mas desta vez podemos acrescentar um sub-género, ou melhor uma geografia e uma cultura: um heist movie passado no sul dos EUA e impregnado da cultura dessas latitudes. Actores e ritmo desenham a paisagem muito americana do estado de West Virginia, de Charlotte e das corridas de NASCAR. Aqui há hillbilly's, blue-color workers que fazem o que podem para conseguir mais um dólar na sua carteira. É a descrição de uma cultura, misturada com muito humor para, ao mesmo tempo, a ridicularizar e enaltecer. Há espaço para tudo neste delicioso filme, divertido do início ao fim, com actores que não só são brilhantes como parecem estar a divertir-se à grande.
Adam Driver é uma das estrelas do grupo, com uma interpretação controlada, serena e cheia de personalidade. Daniel Craig é quem atrai mais as atenções já que estamos a falar do mais recente James Bond numa interpretação que nada tem a ver com o agente secreto. Apesar de conseguir entrar completamente no mundo rural dos EUA fica como uma curiosidade excêntrica bem explorada. Channing Tatum é o protagonista e o fio moral da história mas, ainda assim, eclipsado por Driver e mesmo por Craig. Riley Keough continua a ser uma revelação, depois de American Honey e da série de TV The Girlfriend Experience, cada vez mais assegurando um lugar seguro nos canto dos actores corajosos.
Logan Lucky é resultado de uma colaboração deliciosa entre realizador e actores, de um capitão de equipa completamente seguro da sua arte, que sabe-se estar lá mas que deixa o diálogo e talento da representação respirar. Um filme a não perder.
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