Alfred Hitchcock uma vez disse que algum cinema que via era parecido com fotografias a falar. Filmar é muito mais do que apontar a câmara e esperar que os actores e as falas façam o trabalho. Quando vejo um filme como este de Xavier Dolan tenho a certeza de onde está o lado da razão. Este jovem realizador canadiano continua um trabalho exemplar, depois de Tom à la Ferme, que deixou-me com amargo de boca, e depois do maravilhoso Mamã (tenho de ver os restantes). Juste La Fin du Monde é um filme onde a arte de fazer cinema está num dos seus topos, uma tour de force de como tornar interessante e cativante uma história que nas mãos de outros realizadores poderia ser pouco mais que "cabeças a falar".
Um jovem escritor regressa a casa 12 anos depois de a ter deixado. Está a morrer e pretende revisitar uma família de quem tem uma mistura de saudades e ressentimento. Quando chega é recebido pela mãe, por uma irmã que pouco conhece, o irmão mais velho e a sua esposa. O argumento é baseado numa peça de teatro. Xavier Dolan não se esquece desse código genético e este é um filme de falas e close ups dos vários actores. Contudo, é a forma como trata tudo o que podia ser banal o que o distancia de outros realizadores. A profundidade de campo, por exemplo, é usada como elemento narrativo. O close-up é omnipresente e apropriado à intensidade do texto e da performance dos actores. Apenas parcimoniosamente é-nos dado o ambiente físico que rodeia estas pessoas. O que interessa são as emoções dos seres humanos que protagonizam esta história. São as suas cabeças, os seus olhos, a sua personalidade que são intensa e violentamente arremessados de encontro a nós. E os actores dão tudo o que poderiam dar, guiados pelas mãos de um realizador que sabe que a sua assinatura vai estar lá independentemente do virtuosismo ou fotogenia de quem escolheu para intérpretes.
À medida que vejo mais filmes consolida-se o papel e importância de um actor. Depois de uma semana onde vi Elle com Isabelle Hupert e depois este essa solidificação está um pouco mais intensa. Léa Seydoux está surpreendentemente irreconhecível, uma adolescente que vê no seu irmão a única esperança para sair de uma existência lúgubre e monótona. Marion Cotillard é, ao mesmo tempo, uma mulher temerosa e perspicaz. Vincent Cassel é violento e temível. Gaspard Ulliel é o silêncio ditador do filho pródigo. Nathalie Baye é a mãe, a mais velha e a única esperança de riso numa casa pesada. Estes actores, junto com a proximidade e cumplicidade da câmara de Dolan transformam Juste La Fin du Monde numa das pérolas do ano que, infelizmente, vai passar despercebida para a maior parte das pessoas.
Alfred Hitchcock pode estar descansado enquanto existirem almas e olhos como as de Dolan. Eles não filmam apenas fotografias que falam.
Um jovem escritor regressa a casa 12 anos depois de a ter deixado. Está a morrer e pretende revisitar uma família de quem tem uma mistura de saudades e ressentimento. Quando chega é recebido pela mãe, por uma irmã que pouco conhece, o irmão mais velho e a sua esposa. O argumento é baseado numa peça de teatro. Xavier Dolan não se esquece desse código genético e este é um filme de falas e close ups dos vários actores. Contudo, é a forma como trata tudo o que podia ser banal o que o distancia de outros realizadores. A profundidade de campo, por exemplo, é usada como elemento narrativo. O close-up é omnipresente e apropriado à intensidade do texto e da performance dos actores. Apenas parcimoniosamente é-nos dado o ambiente físico que rodeia estas pessoas. O que interessa são as emoções dos seres humanos que protagonizam esta história. São as suas cabeças, os seus olhos, a sua personalidade que são intensa e violentamente arremessados de encontro a nós. E os actores dão tudo o que poderiam dar, guiados pelas mãos de um realizador que sabe que a sua assinatura vai estar lá independentemente do virtuosismo ou fotogenia de quem escolheu para intérpretes.
À medida que vejo mais filmes consolida-se o papel e importância de um actor. Depois de uma semana onde vi Elle com Isabelle Hupert e depois este essa solidificação está um pouco mais intensa. Léa Seydoux está surpreendentemente irreconhecível, uma adolescente que vê no seu irmão a única esperança para sair de uma existência lúgubre e monótona. Marion Cotillard é, ao mesmo tempo, uma mulher temerosa e perspicaz. Vincent Cassel é violento e temível. Gaspard Ulliel é o silêncio ditador do filho pródigo. Nathalie Baye é a mãe, a mais velha e a única esperança de riso numa casa pesada. Estes actores, junto com a proximidade e cumplicidade da câmara de Dolan transformam Juste La Fin du Monde numa das pérolas do ano que, infelizmente, vai passar despercebida para a maior parte das pessoas.
Alfred Hitchcock pode estar descansado enquanto existirem almas e olhos como as de Dolan. Eles não filmam apenas fotografias que falam.
Sem comentários:
Enviar um comentário