A partir do próximo dia 6 de Outubro, numa parceria jornal Público e editora Levoir, no integra e pela primeira vez em Portugal, será publicado o Sandman de Neil Gaiman. Este é, junto com a colecção Novelas Gráficas II, o acontecimento editorial do ano no que à publicação de Banda Desenhada em terras lusas diz respeito. Esta BD é uma das minhas favoritas de sempre e o sétimo volume, Vidas Breves, é mesmo um dos mais importantes livros da minha vida. Corram a reservar os vossos exemplares. Deixo-vos com umas palavras que escrevi há uns anos sobre esta obra-prima não só da BD como da Literatura (só assim, sim, sem mais nada).
No final da década de 80, a casa mãe de personagens tão famosos como o Super-Homem, o Batman e a Mulher-Maravilha, a DC Comics, vivia uma profunda revolução no formato da narrativa dos seus personagens. O ano de 1986 (considerado por alguns como o melhor ano da História da BD Americana) foi palco de importantes eventos nesta casa editorial, com histórias como Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons, The Dark Knight Returns, de Frank Miller, e Crise nas Terras Infinitas, de Marv Wolfman e George Pérez. As duas primeiras foram responsáveis pela assumida maturidade desta Arte, a terceira pela reformulação do universo de super-heróis da DC Comics. Neste panorama destacou-se a Senhora Editora Karen Berger, que tinha como missão recrutar novos autores para que, com novos prismas, com diferentes pontos de vista, ajudassem a revitalizar a velha casa, seguindo a linha de Watchmen e The Dark Knight Returns, que haviam atingido impressionante sucesso crítico e comercial. Berger procurou do outro lado do oceano nomes que lhe pudessem ajudar nessa tarefa, à semelhança de Alan Moore e Dave Gibbons, ambos ingleses. Dentre esses autores surge um jovem de nome Neil Gaiman, que viria a transformar-se num dos nomes mais sonantes da chamada “invasão britânica” dos Comics.
No final da década de 80, a casa mãe de personagens tão famosos como o Super-Homem, o Batman e a Mulher-Maravilha, a DC Comics, vivia uma profunda revolução no formato da narrativa dos seus personagens. O ano de 1986 (considerado por alguns como o melhor ano da História da BD Americana) foi palco de importantes eventos nesta casa editorial, com histórias como Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons, The Dark Knight Returns, de Frank Miller, e Crise nas Terras Infinitas, de Marv Wolfman e George Pérez. As duas primeiras foram responsáveis pela assumida maturidade desta Arte, a terceira pela reformulação do universo de super-heróis da DC Comics. Neste panorama destacou-se a Senhora Editora Karen Berger, que tinha como missão recrutar novos autores para que, com novos prismas, com diferentes pontos de vista, ajudassem a revitalizar a velha casa, seguindo a linha de Watchmen e The Dark Knight Returns, que haviam atingido impressionante sucesso crítico e comercial. Berger procurou do outro lado do oceano nomes que lhe pudessem ajudar nessa tarefa, à semelhança de Alan Moore e Dave Gibbons, ambos ingleses. Dentre esses autores surge um jovem de nome Neil Gaiman, que viria a transformar-se num dos nomes mais sonantes da chamada “invasão britânica” dos Comics.
A ideia para Sandman surgiria de uma única imagem concebida pelo autor e da liberdade criativa que Karen Berger deu a Gaiman. Ofereceu-lhe carta branca para usar o nome de um personagem obscuro da década de 70 detido pela DC e, a partir dele, criar universos e conceitos completamente novos. Assim, da tal imagem de “um homem, novo, pálido e nú, prisioneiro numa cela, à espera que os seus captores morram (...), morbidamente magro, com longo cabelo negro, e estranhos olhos” nasceu a história do Senhor dos Sonhos, o de muitos nomes, Dream, Morpheus, Sandman (em português o João Pestana). A sua publicação começaria em Outubro de 1988, duraria 75 capítulos até 1996 e viria a transformar-se numa das mais premiadas séries de BD de sempre, arrebatando honras fora do mundo dos Comics como o World’s Fantasy Award em 1991 e o New York Times Best Seller List.
A importância de Sandman não pode ser menosprezada. Não só introduziu a primeira série longa de autor com um princípio, meio e fim (na altura, um feito raro numa Arte controlada pelas intermináveis telenovelas dos super-heróis), como daria origem a uma Imprint da DC, a Vertigo, liderada por Karen Berger, que seria a residência dos mais idiossincráticos trabalhos de autor, e que mesmo hoje continua a ser das maiores e mais literárias referências do panorama criativo da BD mundial. Sandman seria também uma das primeiras BD americanas em que as colecções dos seus capítulos (serão 11 no total na edição da Levoir) acabariam por tornar-se volumes sempre disponíveis, ajudando à percepção de tratar-se de um trabalho finito e de autor.
A série foi também palco para o aparecimento de inúmeros outros personagens, tão famosos como o protagonista, dos quais obviamente destaca-se a irmã mais velha, Death, uma antropomorfização sexy, gótica e infinitamente sábia da Morte, que ajudaria a cimentar a profunda visão pessoal de Neil Gaiman. Os pedaços de sabedoria debitados pelas aparições esporádicas deste personagem são parte de algumas das mais memoráveis passagens da obra.
Gaiman não limita-se a ser um mero contador de histórias, ainda que o execute de forma exímia, antes imprime uma qualidade intelectual até ao momento com muito poucos exemplos na BD dos EUA. As frases que saem quer da boca dos seus personagens, quer das longas descrições que ocorrem amiúde nos vários capítulos, são profundamente citáveis, mantras capazes de transformar ou sintetizar vidas e pensamentos (existe mesmo um livro chamado “The Quotable Sandman: Memorable Lines from the Acclaimed Series”). Independentemente de todas as hipérboles que possam tecer-se acerca do trabalho de Gaiman em Sandman a realidade é que trata-se de uma obra sem par, que não só inspirou a carreira de inúmeros autores como também marcou a vida de leitores de diferentes gerações. O meu livro favorito de sempre é Brief Lives, o sétimo da colecção, um dos poucos a que regresso inúmeras vezes para procurar um pouco de encanto.
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