Quando vi o quatro episódio da série de TV Westworld reconheci, entre os escritores, um nome: Ed Brubaker. Alguém que conheço de ler nas páginas da Banda Desenhada a escrever algo para além da 9.º Arte é sempre um prazer, principalmente para ele mas também para nós. Neste mundo do século XXI, da imagem em movimento, da informação digitalizada disponível em pequenos ecrãs que carregamos para todo o lado, neste mundo ascendem, por via desta tecnologia, novas artes ou, pelo menos, novas formas de abordar antigas artes. A série de TV transporta para o pequeno ecrã a narrativa, a capacidade de contar histórias, e a BD faz o mesmo, apenas com imagens estáticas. Quer uma quer outra arte são recentes, principalmente se as colocamos no contexto das anciãs e sempre eternas Prosa, Poesia, Dramaturgia. Contudo, gosto de pensar que são mais que complementos ou substituições, são evoluções, iterações de uma mesma intenção, a tal de contar uma história. Ed Brubaker faz parte dos contadores, dos trovadores, que manipulam a arte da narrativa e aplicam-na a diferentes meios. O curioso no caso deste autor (e em todos, se virmos bem as coisas) é não esquecer-se do passado, antes inspira-se nele e reproduz, nos dias de hoje, obsessões presentes desde sempre em várias artes. O escritor é um incontestável fã do noir, abordagem que já teve nomes e histórias sonantes ao seu serviço, a maior parte delas conhecidas de quem vê cinema ou aprecia histórias de detectives conturbados e violentos mas honrados.
Ed Brubaker e Sean Philips são colaboradores de longa data. O trabalho conjunto dura à décadas e é testemunho da sua total sincronia que o continuem a fazer sem perder qualidade. Criminal é uma série da editora Image onde ambos dão vazão à veia noir, expelindo pequenos contos de redenção e pecado (muitas vezes nesta ordem) que envolvem os mais diferentes protagonistas possíveis. Não existe padrão excepto o da tragédia do crime, o da repetição de padrões de destino. Os personagens são homens e mulheres conturbados, omissos à lei e à ordem, envolvidos em situações violentas e das quais a única solução implica empregar mais e mais violência. Não que Criminal seja o tipo de narrativa a sobejar testosterona. Antes falamos de violência rápida e incisiva, direccionada, pessoal, e, por isso, mais trágica. Depois, claro, Brubaker e Philips lidam com as consequências e causas dessa violência, principalmente por via dos seus personagens.
Nos dois contos interligados deste Wrong Time, Wrong Place acompanhamos um pai e um filho. No primeiro conto, o progenitor terá de lidar como uma azarada incursão na prisão. No segundo é a vez do filho lidar com a vida criminosa do pai, na melhor das duas narrativas. Uma das curiosidades destas duas histórias é a introdução de BD's imaginadas ao estilo da década de 70 e que fazem lembrar outras como Conan, o Bárbaro e uma curiosa mistura de Master of Kung Fu e Homem-Aranha.
Criminal é sistematicamente uma das mais consistentes obras de qualidade a sair da imaginação de Brubaker e Philips. Este sétimo não é excepção.
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