Vou começar por fazer importantes confissões. Sou fã de Banda Desenhada desde muito cedo na minha vida (a minha memória diz cinco anos). De tanta e tanta coisa que li, os anos destilaram o meu gosto ao ponto de existirem personagens que moram mais perto do coração que outros. Não quero com isso dizer que não gosto desses ou que considero uns superiores em qualidade. Não tenho amor nenhum por estes conflitos. Mas, nestes dias que correm, adoro o universo de super-heróis da DC Comics, editora dos EUA que tem no seu catálogo os muito conhecidos Super-Homem e Batman e a minha favorita das favoritas, a Mulher-Maravilha. Os que lêem este Blog sabem o quanto amo e defendo os filmes que inauguraram o universo cinematográfico da DC: os maravilhosos Man of Steel e Batman v Superman. O Esquadrão Suicida, que estreou esta semana, é o terceiro deste mesmo universo. Gostava de poder dizer que tive o mesmo prazer dos dois primeiros. Infelizmente, não é caso. Este Esquadrão não é um filme desastroso - em nada que se aproxime do significado dessa palavra. É um filme com bons momentos, com actores que poderiam ter sido melhor aproveitados mas que, em última instância, são eles que, com as suas interpretações, valem a experiência da ida ao cinema. David Ayers - ou quem quer que tenha sido o último responsável pela edição e história do filme - infelizmente não é um realizador com fogo e inspiração.
O Esquadrão Suicida, na sua iteração actual, foi criado em 1987 pelo escritor de BD John Ostrander. A ideia era simples: o governo, quando confrontado com uma situação que necessitava de mãos especiais, forçava super-vilões seus prisioneiros a cuidarem dessa mesma ameaça. Do lado do governo e a liderar as operações tínhamos Amanda Waller, irascível e cruel, um monumento de personagem capaz de tudo para levar a bom porto a segurança interna. Compondo o dito Esquadrão eram coleccionados um conjunto rotativo de personagens, em que alguns iam sobrevivendo missão após missão e acabando por fazer parte regular da revista homónima. De uma forma ou de outra, o Esquadrão foi aparecendo ao longo deste últimos 30 anos e a DC, numa jogada bem diferente da sua concorrente, a Marvel, decide dar oportunidade cinematográfica aos seus vilões, pelos quais a editora é bastante conhecida - e merecidamente, já que possui alguns dos melhores dos piores. É exactamente pela atractividade dos personagens que aparecem neste filme e pela sua interpretação que o mesmo ganha.
As mulheres são as estrelas - principalmente quando falamos da Harley Quinn de Margot Robbie (o ponto alto deste Esquadrão Suicida), de Viola Davis como Amanda Waller e de Cara Delavingne como Encantadora (ainda que vários furos abaixo das duas primeiras). É pela força da psicose de todas elas, dos seus diálogos e dos seus actos que o enredo avança e que o interesse pelo filme atinge o cume. No meio das falhas elas brilham. Will Smith, que tenta, com este filme, recuperar uma carreira estagnada, faz de si mesmo com o carisma costumeiro. Não é o ponto alto mas é um valor seguro. Dos restantes personagens, destaca-se ainda uma interessante interpretação de Jay Hernandez como El Diablo. Os restantes pouco ou nada têm a fazer excepto por (e claro que não poderia esquecer-me) Jared Leto e o seu Joker. Este é, ao mesmo tempo, um dos pontos altos e uma falha no filme. O trabalho de Leto é uma absorvente e maníaca interpretação do Joker, um gangster tatuado, perigoso em cada palavra, louco e atemorizador, como o personagem deve ser. É verdade que o foco era no Esquadrão e na Harley Quinn mas as poucas aparições do maior inimigo do Batman sabem a pouco. Isso fala muito acerca da qualidade do trabalho de Leto e da força e carisma do personagem. Apenas um apontamento: o Joker, tal como o sempre interpretei, não é tão apaixonado assim pela Harley, sendo mesmo capaz das maiores traições e abusos. Por outro lado, foi pena terem dedicado tão pouco tempo ao nascimento da Harley. A sua origem merecia a duração e o impacto de uma tragédia.
A montagem é, provavelmente, a maior falha do filme. Em muito casos é rápida e frenética. O início, com a apresentação dos muitos personagens, o realizador usa e abusa de banda sonora, como que em compensação do que deveria conseguir apenas com a imagem, diálogos e ambiente. Não existe subtileza, ao ponto da irritação. Felizmente que carrega no travão nos segundo e terceiro actos mas a memória daqueles primeiros minutos ficou sublinhada. Este poderia ser um filme de acção típico do verão que com muita contenção ter-se-ia transformado noutro mais forte mas não menos envolvente. Em termos de argumento, apresenta falhas de ritmo e possui alguns apontamentos de inconsistência.
Um último ponto. A DC Comics tem o mérito de tentar diferentes linguagens e aproximações estilísticas nos filmes do seu universo cinematográfico de super-heróis. Podemos não gostar de algumas (ou nenhuma) delas mas arrisca com prismas diferentes de realizadores diferentes. O Man of Steel e BvS de Zack Snyder em nada se assemelham a este Esquadrão. Não leva pontuação especial mas é, pelo menos, algo a continuar a acompanhar.
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