Busiek, Anderson e Ross andam às voltas com Astro City há um bom par de décadas e, apesar de "apenas" terem um total de 12 volumes publicados até à data, esta continua a ser uma das minhas mais interessantes BD's pela análise que dedica à mitologia dos super-heróis. As histórias que contam não são descontruções pós-modernistas que tanto furor fazem de uma certa tendência intelectual. Antes procuram uma abordagem mais pura e maravilhada, uma mistura de sensibilidade típica das Idades de Prata e Bronze da BD nos EUA com linguagens mais modernas mas, volto a dizer, sem tendências descontrucionistas. Busiek, o escritor, é conhecido pela sua abordagem de fã à mitologia e em nenhuma das suas obras algo é tão óbvio como neste Astro City, uma carta de amor elaborada e longa aos universos a quem dedicou décadas de leitura, devoção e trabalho: refiro-me à Marvel e à DC.
Este Lovers Quarrel possui um conjunto de características que, ainda que não originais, são particularmente interessantes. Busiek e companhia focam o seu olhar num par amoroso de super-heróis (talvez reminescentes da famosa parelha Demolidor / Viúva Negra da década de 70 da Marvel), enquanto tentam envelhecer com dignidade. Como disse, não se trata de uma abordagem ou temática inovadoras, mas a candura e maestria com que os autores elaboram as vidas, personalidades e histórias dos personagens, transformam o familiar no cativante. Ao mesmo tempo, aparentam, com discrição, avançar uma macro-história que parecem estar a construir desde que iniciaram esta nova iteração de Astro City pela editora Vertigo da DC Comics.
Sistematicamente, esta continua a ser uma das mais interessantes BD que leio. Isto apesar de, neste volume, Brent Anderson parecer estar em baixo de forma e alguns dos desenhos aparentarem ser semi-acabados. Ainda assim, um digno volume da coleção.
Injection vol. 1 de Warren Ellis, Declan Shalvey, Jordie Bellaire
Por falar em autores já experientes, volto a dedicar algum do meu tempo de leitura a Warren Ellis, consistentemente um dos mais prodigiosos escritores de BD da actualidade. Apesar da "pequena" revolução na narrativa super-heroística do início do século com meros doze números de Authority e com os quatro volumes de Planetary, continua a procurar não tanto novas linguagens mas perspectivas inovadoras e sui generis. Injection, publicada pela editora Image, fala de cinco génios que literalmente injectaram um "vírus" no século XXI. Previram que a humanidade estaria prestes a entrar numa fase de estagnação e criaram algo que possibilitasse "tornar as coisas mais interessantes". A ideia, por si só, é já cativante, mas a abordagem marginalmente surrealista de Ellis à escrita transformam a experiência.
Ellis procura unir o místico ao tecnológico, o ecológico ao digital, criando um algoritmo narrativo que necessita de várias leituras para ser entendido e decifrado. Não tenta, de forma nenhuma, criar uma experiência "amiga do leitor", antes forçando-o a ter atenção, a ler e reler, a criar um novo estado de mente para poder ler, mais com o coração do que a cabeça, a história da injeção nanomística. Ellis parece controlar um conjunto de mitologias, misturando-as de forma particular e cheia de energia cinética. Junto com Trees (Image) e Karnak (Marvel), este escritor continua a provar ser uma das mais interessantes mentes da BD mundial, lado a lado com outros ingleses famosos como Moore e Morrison, de quem partilha o mesmo código genético narrativo mas com quem, apesar da sua já vasta obra, não parece (ainda) partilhar da mesma fama.
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