Seja imortal por dois anos. É esta a promessa feita, o pacto faustiano de fama. A cada 90 anos, doze deuses reencarnam em corpos humanos, doze deuses de diferentes panteões, desde o grego ao cristão, desde Dionísio a Lúcifer. Sobre eles são impostas um conjunto de regras, mas dentre estas a impedimento da procura de fama não é uma delas. Poderão ser cantores, sensações da internet sem qualquer talento discernível, mas apenas por dois anos. Dois anos em que vivem como deuses imortais.
Este é o conceito por detrás de The Wicked and the Divine, outra brilhante obra da Image, a editora que tem causado uma revolução na BD nos EUA. Escrita por Kieron Gillen e desenhada por Jamie McKelvie, imiscui-se nas tendências e zeitgeist deste início de século, um século de internet, whatsapp, facebook, instagram, onde ser-se jovem é um predicado essencial, onde estrias, experiência e rugas são defeitos mortais. Esta é uma BD sobre a fama moderna, sobre uma juventude que procura a imortalidade na aurora da idade, para quem a mais recente sensação da web é o próximo Messias pastilha elástica.
The Wicked and the Divine é um tipo de obra que apela a todos os meus gostos. Coloca figuras mitológicas no presente e usa-as para uma reflexão acerca do "estado das coisas" ou, pelo menos, "um estado das coisas". Não é de descurar que se trata de reflexão importante apenas para certas pessoas (nem todos têm essa "enorme" preocupação que é o modo como se vê e procura a fama nos dias de hoje). Contudo, como todas as boas obras de arte a leitura não termina em apenas um aspecto, e ainda que possa ser insular no tempo não o será necessariamente na temática. Eu acredito que esta será uma delas. O primeiro volume representa uma enorme promessa e mal posso esperar pelo próximo.
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