Southern Bastards: Here Was a Man de Jason Aaron e Jason Latour
É inevitável. A editora Image continua a atrair os nomes mais talentosos da 9.ª Arte. Mudaram de agulha e deslocam-se de forma segura pela linha autoral, dando não só total liberdade artística aos criadores como controlo financeiro sobre o seu trabalho. Jason Aaron e Jason Latour, que se notabilizaram a trabalhar para as duas grandes, Marvel e DC, são dos mais recentes exploradores no cada vez maior mercado independente liderado pela Image. O primeiro, escritor, ficou bastante conhecido pela sua obra-prima, Scalped, publicada pela Vertigo da DC. O segundo adquiriu alguma notoriedade por continuar o trabalho do primeiro na BD Wolverine & the X-Men. Acontece que os dois têm mais algo em comum do que apenas o amor pelo mutante de garras retrateis: o Sul dos EUA.
Ambos são naturais dessa região, como afirmam na introdução deste volume, e nutrem uma relação de amor/ódio pela "mitologia" que permeiam aquelas áreas do enorme país que é os EUA. O cheiro, a atmosfera, a rudeza dos homens, o discurso curto e grosso - há quem o diga franco, outros bruto. Todas estas características fazem parte da lembrança que escrevem neste primeiro volume de Southern Bastards. Um primeiro volume que relata o regresso de um filho pródigo a um implacável Sul, onde a violência física é temperada pelos fortes sabores da gastronomia local.
Aaron e Latour tecem um conto realista mas imbuído de discretos apontamentos fantásticos que carregam a história para lá da esfera meramente documental, para a afirmar como intemporal e (quase) sem geografia. Sim, porque este é um conto do Sul dos EUA e não do Alentejo.
This One Summer de Jillian Tamaki e Mariko Tamaki
This One Summer transborda de recordações. Só que estas não são de costeletas picantes e violência. Cada quadradinho, cada sequência desta BD independente canadiana cheira, sabe e sente a nostalgia, a memórias de infância e adolescência. As autoras não se coíbem de minar todas as pequenas sensações que guardaram e vertê-las para a folha de papel, num registo muito semelhante a Craig Thompson, o extraordinário autor de Blankets e Habibi (mesmo no desenho). Mas enquanto Thompson tinha um registo robusto, preenchido, cada página uma perfeita sintonia entre desenho, ideia e texto, este This One Summer não me satisfez da mesma forma.
O livro veio com elevadas recomendações, tendo encabeçado todas as listas das melhores BD de 2014. A estética que ia espreitando fazia-me lembrar leituras alegres (o já mencionado Blankets). A expectativa era alta mas, infelizmente, saiu defraudada. Imagino que a história e a forma tenham muito a dizer a muitos mas a mim não me tocou quase de forma alguma. Talvez por distanciamento face à experiência, reconheço. Contudo, ao analisar de forma mais fria, deparo-me com um esforço que, do ponto de vista do desenho, é quase irrepreensível, mas do ponto de vista narrativo é ténue. O conto é descomprimido ao ponto do sumo ser quase inexistente. O silêncio pode ser uma arma poderosa quando contamos algo mas, no caso de This One Summer, pareceu-me reflectir a falta do que dizer em todas as páginas que se propôs para escrever (e são muitas). As mesmas ideias (memória) são repetidas de formas diferentes mas, na essência, e no meu ponto de vista, com pouco acréscimo.
Apesar destas minhas reservas, aconselho a leitura a outros sentimentos mais em sintonia com o destas duas excelentes autoras. De certeza que irão ver coisas que me passaram ao lado.
Ambos são naturais dessa região, como afirmam na introdução deste volume, e nutrem uma relação de amor/ódio pela "mitologia" que permeiam aquelas áreas do enorme país que é os EUA. O cheiro, a atmosfera, a rudeza dos homens, o discurso curto e grosso - há quem o diga franco, outros bruto. Todas estas características fazem parte da lembrança que escrevem neste primeiro volume de Southern Bastards. Um primeiro volume que relata o regresso de um filho pródigo a um implacável Sul, onde a violência física é temperada pelos fortes sabores da gastronomia local.
Aaron e Latour tecem um conto realista mas imbuído de discretos apontamentos fantásticos que carregam a história para lá da esfera meramente documental, para a afirmar como intemporal e (quase) sem geografia. Sim, porque este é um conto do Sul dos EUA e não do Alentejo.
This One Summer de Jillian Tamaki e Mariko Tamaki
This One Summer transborda de recordações. Só que estas não são de costeletas picantes e violência. Cada quadradinho, cada sequência desta BD independente canadiana cheira, sabe e sente a nostalgia, a memórias de infância e adolescência. As autoras não se coíbem de minar todas as pequenas sensações que guardaram e vertê-las para a folha de papel, num registo muito semelhante a Craig Thompson, o extraordinário autor de Blankets e Habibi (mesmo no desenho). Mas enquanto Thompson tinha um registo robusto, preenchido, cada página uma perfeita sintonia entre desenho, ideia e texto, este This One Summer não me satisfez da mesma forma.
O livro veio com elevadas recomendações, tendo encabeçado todas as listas das melhores BD de 2014. A estética que ia espreitando fazia-me lembrar leituras alegres (o já mencionado Blankets). A expectativa era alta mas, infelizmente, saiu defraudada. Imagino que a história e a forma tenham muito a dizer a muitos mas a mim não me tocou quase de forma alguma. Talvez por distanciamento face à experiência, reconheço. Contudo, ao analisar de forma mais fria, deparo-me com um esforço que, do ponto de vista do desenho, é quase irrepreensível, mas do ponto de vista narrativo é ténue. O conto é descomprimido ao ponto do sumo ser quase inexistente. O silêncio pode ser uma arma poderosa quando contamos algo mas, no caso de This One Summer, pareceu-me reflectir a falta do que dizer em todas as páginas que se propôs para escrever (e são muitas). As mesmas ideias (memória) são repetidas de formas diferentes mas, na essência, e no meu ponto de vista, com pouco acréscimo.
Apesar destas minhas reservas, aconselho a leitura a outros sentimentos mais em sintonia com o destas duas excelentes autoras. De certeza que irão ver coisas que me passaram ao lado.
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