(Prometo informar os menos conhecedores acerca da acessibilidade desta coleção de BD, ou seja, se é fácil ou não ler sem saber mais coisas)
Grau de acessibilidade: Fácil
Sai amanhã, Quinta-feira, dia 16 de Outubro, junto com Público e custa 8,9€
Os apreciadores de BD em geral e europeus em particular conhecem bem o nome de Milo Manara (leiam um artigo que escrevi sobre sexo na BD, onde falava deste grande senhor). Sabemos que é sinónimo de erotismo e de mulheres esbeltas e magras, sempre (ou quase sempre) envolvidas em situações eróticas e sexuais. As mulheres de Manara são bastante conhecidas. Contudo, o que passa muitas vezes despercebido, principalmente para os menos atentos, é que ele é também um exímio contador de histórias e um extraordinário desenhista. A sua fama passou além fronteiras e além 9.ª Arte, atraindo, desde cedo, os olhares de outros em outros cantos do mundo. Um desses cantos foi os EUA e, paradoxalmente, a editora de super-heróis Marvel.
Recentemente, Manara tem contribuído com capas alternativas de revistas mensais da editora e uma delas gerou forte polémica. O desenho era do personagem Mulher-Aranha numa posição considerada como pouco digna para o género feminino. Não irei agora aqui ingressar numa reflexão sobre o alcance deste pequeno drama mas parece-me uma ponte interessante para focar o que me traz a este post: Milo Manara desenhou uma história para a Marvel envolvendo algumas mulheres dos X-Men. E, para juntar o agradável ao ainda mais agradável, escrita pelo mais lendário dos autores americanos a trabalhar nos X-Men, o responsável pela fama mundial deste grupo de personagens, Chris Claremont.
A parelha é de tal forma improvável que por si já vale o preço de admissão. O produto final deve mais à sensibilidade de Claremont do que à de Manara, mas não deixa de ser um interessante pedaço de História de BD. Cheira-me que houve mais entusiasmo do primeiro em trabalhar com o idiossincrático italiano e apesar de a história não ser, de longe, dos melhores trabalhos dos dois artistas, vale a pena ser lida pela curiosidade do evento. Há espaço para algum innuendo erótico, mas sempre de uma forma muito leve, ou não estivéssemos a falar de personagens que, geralmente, permanecem afastados de situações mais risqué. Apesar da forte carga sexual dos super-heróis, principalmente das mulheres, com os seus uniformes altamente reveladores, qualquer tipo de envolvimento carnal é sempre abordado na esfera do subentendido ou mesmo platónico. É, portanto, ainda mais irónico que alguém como Milo Manara, conhecido por estar do lado oposto do subentendido ou do platónico, tenha sido convidado para desenhar os X-Men. Devo dizer que ainda bem, porque temos oportunidade de ver a colaboração única entre estes dois artistas superiores da 9.ª Arte e porque o público americano poderá ficar mais desperto para o que se faz deste lado do oceano.
Chris Claremont, por seu lado, tem espaço para voltar a explorar os personagens favoritos dos seus saudosos X-Men: as mulheres. Claremont, entre outros contributos para o "amadurecimento" da BD nos EUA, ajudou ao desenvolvimento de personagens femininos reais e centrais nas histórias de super-heróis. Não tendo sido o pioneiro, foi um dos exploradores, ajudando a que os super-heróis não se ficassem pelo género masculino e, mais importante, para que as mulheres funcionassem como mais do que apenas a concretização de fantasias juvenis masculinas. As mulheres de Claremont não eram frágeis, eram seres humanos com tanta garra, determinação e personalidade quanto os seus congêneres do sexo oposto. E aliar numa história de BD dois homens com estas visões tão interessantes das mulheres só pode ser visto como uma benesse.
Nota – Não partilho da opinião que tem de se saber tudo para acompanhar bem uma história. Parte da “magia” da BD americana reside na descoberta posterior, na paciente reconstrução do puzzle. Mas para aqueles que não têm tempo e paciência aqui fica este meu pequeno esforço.
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