A equipa de Ed Brubaker, escritor, e Steve Epting, desenhista, foi bastante aplaudida pelo trabalho que fizeram no Capitão América. Recentemente, a editora Levoir, junto com o jornal o Público, abriu a sua coleção da Marvel de 2014 com dois volumes que compilavam a primeira história destes criadores no personagem, O Soldado de Inverno. Seria tão bem recebida que inspirou o argumento do mais recente filme do Sentinela da Liberdade. Na BD, a colaboração entre os dois acabaria de uma forma bastante dramática, nomeadamente com a mediática morte do Capitão.
Os anos passaram e a reunião entre estes dois talentosos senhores parecia fadada a não acontecer mais. Eis que surge o convite da editora independente Image, actualmente o reduto de algumas das mais interessantes obras da 9.ª Arte nos EUA, e decidem avançar com um projecto totalmente detido por ambos. Brubaker não é novo nas andanças da publicação independente, tendo já produzido maravilhosas peças como Fatale e Criminal, mas Epting até o momento era conhecido por décadas de trabalho em personagens da Marvel.
Velvet conta-nos a história de uma agente secreta em meia-idade envolvida em conspirações tipicamente "James Bondianas". Todas as roupagens da espionagem pura e dura, de agentes duplos, triplos e outras iterações, de situações que envolvem traições e de traições em cima dessas mesmas traições, tudo está presente neste Velvet, orquestrado na perfeição pelas habilidosas palavras do contido Brubaker e pelo ambiente soturno de Epting. Ambos oferecem um tour-de-force em como fazer uma história contendo todos os lugares comuns das grandes obras de espionagem mas reinventados e reimaginados por talentos superiores.
O facto de escolherem um época de ouro para este tipo de conto, o início da década de 70, é um dos golpes de génio da série. Ao afastarem-se da tecnologia Orweliana que parece ser lugar comum nos dias de hoje, ao escolherem uma época onde tudo é ainda materializado, oferece a história e personagem a situações que vão muito ao encontro do imaginário que construímos. O Cinema, a arte por excelência onde este tipo de histórias mais chegaram ao publico comum (no qual me incluo), geralmente afasta-se do passado para este tipo de tema. A BD, tal como a Prosa, pode e muitas vezes escolhe outros caminhos, preferindo a familiaridade e, por conseguinte, um ambiente idealizado que ajuda à projeção. Velvet é isso: familiar e perigoso. Uma pitada de retro num cozinhado de ingredientes desconhecidos.
O suspense e o mistério, essenciais ao tema da espionagem e contra-espionagem, são geridos de forma parcimoniosa e nunca gratuita, respirando através do desenvolvimento das variadas personalidades que formam o quadro da série. A escolha de uma mulher em meia-idade como personagem principal funciona bem como premissa em Velvet, afastando-se, assim, de um conjunto de lugares-comuns geralmente associados a uma literatura mais escapista. Contudo, a identificação torna-se também imediata e fácil, porque abre espaço para fraquezas e forças que não estão muitas vezes presentes nestes universos. Além disso, poderá atrair um público alvo geralmente dissociado da BD.
Uma aposta mais do que ganha, primeiro dos autores e depois da Image.
O suspense e o mistério, essenciais ao tema da espionagem e contra-espionagem, são geridos de forma parcimoniosa e nunca gratuita, respirando através do desenvolvimento das variadas personalidades que formam o quadro da série. A escolha de uma mulher em meia-idade como personagem principal funciona bem como premissa em Velvet, afastando-se, assim, de um conjunto de lugares-comuns geralmente associados a uma literatura mais escapista. Contudo, a identificação torna-se também imediata e fácil, porque abre espaço para fraquezas e forças que não estão muitas vezes presentes nestes universos. Além disso, poderá atrair um público alvo geralmente dissociado da BD.
Uma aposta mais do que ganha, primeiro dos autores e depois da Image.
Sem comentários:
Enviar um comentário