(Prometo informar os menos conhecedores acerca da
acessibilidade desta coleção de BD, ou seja, se é fácil ou não ler sem saber
mais coisas)
Grau de acessibilidade: Fácil
Sai
amanhã, Quinta-feira, dia 21 de Agosto, junto com Público e custa 8,9€
Marvels de Kurt Busiek e Alex Ross marcou uma viragem. Publicada em 1994,
nasce no auge de uma das épocas “negras” da BD americana. O início da década de
90 foi profundamente marcado pelo apogeu (ou ponto mais baixo, dependendo da
forma como o vemos) do anti-herói, tal como iniciado por Alan Moore nos Watchmen e Frank Miller em The Dark Knight Returns. Depois destas
obras e ainda que não tenha sido esse, nem de longe nem de perto, o objectivo
dos autores, multiplicaram-se as histórias negras e os heróis que matam. Foi o
auge da fama de personagens como Punisher,
Venom, Ghost Rider, etc, nas suas versões mais vingativas e longe da
matriz heroica pela qual sempre se pautou a criação do arquétipo do
super-herói. Kurt Busiek e Alex Ross vieram dar o primeiro passo para a
destruição desta “moda”.
Os dois autores eram apaixonados pelos momentos
mais emblemáticos das décadas de 60 e 70 do universo da Marvel, tendo sido criados pela leitura desses clássicos. Surgiu
então a ideia de fazer algo até então inédito neste tipo de BD. Contariam a
história dos primórdios universo Marvel
pela perspetiva da rua, da do homem e mulher comum. Como seria para uma mãe de
família passear pelas ruas de Nova Iorque enquanto a cidade era pela primeira
vez visitada pelo gigante intergaláctico devorador de mundos conhecido pelos
fãs como Galactus? Que tipo de questões
se lhe surgiriam? Entraria em desespero ou perder-se-ia em pensamentos
filosóficos? Como seria para o miúdo de rua, bicicleta na mão, enquanto por
cima dele se passeava um homem gigante, o Golias
dos Vingadores, ou o Capitão América fazia acrobacias por
cima do trânsito parado? Que maravilhas eram aquelas que surgiam por todo o
lado, neste mundo que antes era sereno e normal (aparentemente). Esta é a
premissa de Busiek e Ross nesta minissérie de quatro capítulos que se
transformou num dos maiores sucessos da editora e que criaria uma parceria de
mais de 20 anos entre os dois autores (vejam a brilhante evolução deste Marvels chamada Astro City, uma das melhores BD actualmente em publicação).
Ao mesmo tempo, lançaria para a ribalta o nome
do ilustrador (esse é o nome mais apropriado), Alex Ross. Este senhor era dono
de um estilo muito próprio, pintando os seus heróis ao invés de os desenhar,
emprestando, desde logo, uma aura realista que tanto tem feito as delícias dos
fãs desde esta altura. Depois deste trabalho lançou um outro, Kingdom Come, junto com o escritor
Mark Waid e publicada pela DC Comics
(em Portugal pela Vitamina BD). Esta BD escreveria a nota final acerca da
loucura “negra” da década de 90, ao comentá-la de forma meta-textual e pouco
subtil. O que Kindgdom Come “acabou”
este Marvels iniciou.
Esta é uma BD para a qual não é necessário ter
noção destes pormenores para a apreciar. A sua qualidade é transversal aos
públicos, às artes e à época. Uma leitura rica e essencial.
Nota final – Eu não partilho da opinião que se tem de saber tudo
para acompanhar bem uma história. Parte da “magia” da BD americana reside na
descoberta posterior, na paciente reconstrução do puzzle. Mas para aqueles que
não têm tempo e paciência aqui fica este meu pequeno esforço.
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