Coleção Levoir/Público Marvel 2014 – 7.º Volume: Universo Marvel

(Prometo informar os menos conhecedores acerca da acessibilidade desta coleção de BD, ou seja, se é fácil ou não ler sem saber mais coisas)

Grau de acessibilidade: Fácil

Sai amanhã, Quinta-feira, dia 21 de Agosto, junto com Público e custa 8,9€


Marvels de Kurt Busiek e Alex Ross marcou uma viragem. Publicada em 1994, nasce no auge de uma das épocas “negras” da BD americana. O início da década de 90 foi profundamente marcado pelo apogeu (ou ponto mais baixo, dependendo da forma como o vemos) do anti-herói, tal como iniciado por Alan Moore nos Watchmen e Frank Miller em The Dark Knight Returns. Depois destas obras e ainda que não tenha sido esse, nem de longe nem de perto, o objectivo dos autores, multiplicaram-se as histórias negras e os heróis que matam. Foi o auge da fama de personagens como Punisher, Venom, Ghost Rider, etc, nas suas versões mais vingativas e longe da matriz heroica pela qual sempre se pautou a criação do arquétipo do super-herói. Kurt Busiek e Alex Ross vieram dar o primeiro passo para a destruição desta “moda”.

Os dois autores eram apaixonados pelos momentos mais emblemáticos das décadas de 60 e 70 do universo da Marvel, tendo sido criados pela leitura desses clássicos. Surgiu então a ideia de fazer algo até então inédito neste tipo de BD. Contariam a história dos primórdios universo Marvel pela perspetiva da rua, da do homem e mulher comum. Como seria para uma mãe de família passear pelas ruas de Nova Iorque enquanto a cidade era pela primeira vez visitada pelo gigante intergaláctico devorador de mundos conhecido pelos fãs como Galactus? Que tipo de questões se lhe surgiriam? Entraria em desespero ou perder-se-ia em pensamentos filosóficos? Como seria para o miúdo de rua, bicicleta na mão, enquanto por cima dele se passeava um homem gigante, o Golias dos Vingadores, ou o Capitão América fazia acrobacias por cima do trânsito parado? Que maravilhas eram aquelas que surgiam por todo o lado, neste mundo que antes era sereno e normal (aparentemente). Esta é a premissa de Busiek e Ross nesta minissérie de quatro capítulos que se transformou num dos maiores sucessos da editora e que criaria uma parceria de mais de 20 anos entre os dois autores (vejam a brilhante evolução deste Marvels chamada Astro City, uma das melhores BD actualmente em publicação).

Ao mesmo tempo, lançaria para a ribalta o nome do ilustrador (esse é o nome mais apropriado), Alex Ross. Este senhor era dono de um estilo muito próprio, pintando os seus heróis ao invés de os desenhar, emprestando, desde logo, uma aura realista que tanto tem feito as delícias dos fãs desde esta altura. Depois deste trabalho lançou um outro, Kingdom Come, junto com o escritor Mark Waid e publicada pela DC Comics (em Portugal pela Vitamina BD). Esta BD escreveria a nota final acerca da loucura “negra” da década de 90, ao comentá-la de forma meta-textual e pouco subtil. O que Kindgdom Come “acabou” este Marvels iniciou.

Esta é uma BD para a qual não é necessário ter noção destes pormenores para a apreciar. A sua qualidade é transversal aos públicos, às artes e à época. Uma leitura rica e essencial.


Nota final – Eu não partilho da opinião que se tem de saber tudo para acompanhar bem uma história. Parte da “magia” da BD americana reside na descoberta posterior, na paciente reconstrução do puzzle. Mas para aqueles que não têm tempo e paciência aqui fica este meu pequeno esforço.

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