Aprés Mais de Olivier Assayas (Depois de Maio)

Enquanto via este filme, uma confortável sensação de familiaridade acompanhou-me durante todo o tempo. Reconhecia aquelas pessoas, reconhecia aqueles lugares. As situações, mesmo que as nunca tenha vivido, por força do relato de outros, soavam-me a sabiam-me a familiares. Tinha vivido cada segundo, cada experiência. Ao mesmo tempo, também me parecia algo idealizado, como se o realizador quisesse que as coisas se tivessem passado assim e não tanto que tenham efectivamente se passado assim. Por isto tudo, gostar ou não gostar do filme, do ponto de vista intelectual, pouco teve a ver com o entusiasmo com que o vi. Os recantos e os cheiros eram-me conhecidos ou, pelo menos, como eu gostava que tivessem sido.

Depois de Maio passa-se nos arredores de Paris no principio da década de 70 e no rescaldo das famosas insurgências estudantis do pós-Maio de 68.  Um rapaz, jovem, artista plástico de sensibilidade e inclinação, envolve-se com as variadas facções rebeldes de esquerda que espelham e espalham os ideais da altura. Ao mesmo tempo, vai vivendo fugazes e importantes aventuras amorosas e sexuais com várias jovens. 

Este filme sabe a nostalgia. O realizador tem saudades destes tempos cheios de indulgência e ideias.  Uma época onde os jovens eram jovens, vivendo as suas paixões e excessos, mas sem perder um átomo da consciência social que esforçavam-se para ter. Assayas demora-se nesta análise quase romântica da época (ainda que filmada de forma bem realista), enaltecendo-a. Essa sensação, essa "opinião", ele nunca  a perde ao longo de todo o filme, mesmo que vá, aqui e ali, promovendo apontamentos irónicos e mesmo críticos. Principalmente quando foca o "depois". Não só o depois para aqueles jovens, que têm de encontrar caminhos mais realistas, como para os adultos que esses jovens um dia poderão vir a ser. Assayas pergunta-se se será possível que estes ideais e a forma como são perseguidos tenham consequências. Contudo, a resposta não é muito certa porque ele próprio parece-se perdido nas boas recordações que esta época lhe traz. 

Um filme com bastante significado e relevância para a cultura portuguesa. Afinal nós e os franceses temos algumas coisas em comum. 

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