Shaun é um miúdo de 12 anos com uma infância atormentada pelo facto do pai ter falecido na guerra das Falklands. Ambientado no princípio dos anos 80, num qualquer subúrbio de Inglaterra fustigado pelos problemas económicos e sociais que então proliferavam. As lutas provocadas por colegas na escola contribuem para o isolamento de Shaun. Quando por acaso se cruza com um grupo de pequenos e simpáticos skins que o são menos por ideologia e mais pela aparência "cool" de roupas pretas, botas Doc Martin e cabelo rapado, é para ele uma lufada de ar fresco. Esta sensação de pertencer a um grupo, de se sentir apoiado, de compartir experiências, em suma, de ter amigos, abriu-lhe de novo o sorriso e o gosto para a vida. Descobre novas brincadeiras, festas, uma amiga especial, enamora-se. "Jusqu'ici tout va bien".Pequenos skins têm sempre algum amigo que cresce e torna-se grande. Alguns já não se ficam pelas brincadeiras e tornam-se, por uma razão ou por outra, mais facilmente que os outros, digo eu, racistas, xenófobos, intolerantes, violentos.
Quando entra em cena este skin mais "à séria", Combo, um "amigo" do gang acabadinho de sair da prisão, Shaun tem a infelicidade de confundir os ideais deste com os do pai.Impressionante a facilidade e rapidez com que se abraçam novos valores e ideologias que se trocam amigos, deixam namoradas, muda de vida. Mais ainda para um miúdo de 12 anos sem referências e exemplos. Especialmente quando se vive numa sociedade sem valores, preocupada em trabalhar para sobreviver, sem tempo para si quanto mais para os seus.Shaun sente-se importante e feliz com o lugar de destaque com que Combo o premeia. Nesta nova posição, convicto que está a fazer um bem a si mesmo e ao país, rouba e insulta o Paquistanês dono de uma loja de conveniência ou expulsa os miúdos indianos do pátio ao mesmo tempo que se apossa da bola deles, com a naturalidade de quem ajuda a velhinha a atravessar a rua. "Jusqu'ici tout va pas très bien". Os primeiros passos titubeantes tornam-se pequenos passos seguros e quando damos por ela estamos a correr atrás de uns quantos modelos que consideramos ideais. Em que direcção, até quando? Não sabemos, não importa. Nem importa as pessoas que atropelamos pelo caminho, menos ainda se não os conhecermos. Mas quando alguém se aleija a sério, aí temos de parar e pensar. Impõe-se reequacionar valores, amizades, atitudes, comportamentos, antes de estarmos tão embrenhados e cegos para conseguir travar a tempo.
E nós como sociedade o que estamos à espera para tentar prevenir estes eventos de proliferar? Que as desigualdades sociais se acentuem? Que as políticas se limitem a leis opressivas que não resolvem nada? Que os valores se desvaneçam? Que o descontentamento se torne em algo mais violento, se manifeste da maneira mais cobarde e ignóbil em grupos que buscam pretextos para ocupar o tempo e libertar a adrenalina a desancar e provocar desordens, se materialize em tudo menos em actividades produtivas. Sim porque isso não é nem de perto nem de longe tão divertido e recompensador. E se por cima não nos acontece nada de mal a nós ou aos que nos são próximos então é continuar, cada vez mais depressa, cada vez mais violentamente, até ao limite.
Uma bola de neve que se vai tornando maior à medida que desce a montanha. Shaun não deixou a bola rolar muito e acabou por deitar ao mar o símbolo que tinha agarrado com igual rapidez. Digamos o tempo de umas férias escolares. Passados 25 anos ainda há quem desça a montanha e isso é preocupante.
This is England é um filme actual e a mensagem clara e precisa. A ver.
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