Banda Desenhada...porque vale a pena ler e ler e ler.


A história do primeiro assassinato

Qual a essência e objectivo de uma história de detectives? Descobrir a verdade, não é? Agora imaginem uma história de detectives cujo cenário é a Cidade Prateada, aquela que existiu antes de o mundo ser mundo, quando o tudo era nada, quando o tudo era um (literal) projecto nas mãos de Deus e Seus Anjos. Imaginem ainda o primeiro assassinato, quando pela primeira vez ocorre a consciente tomada de uma vida por um 3ª pessoa. Com isto tudo, a descoberta da verdade torna-se, provavelmente, na descoberta da VERDADE!

Esta é (talvez) uma das grandes ideias por detrás de “Murder Mysteries” ilustrado por P.Graig Russel a partir de um pequeno conto de Neil Gaiman. Mas deve haver mais. Muito mais! Ou não estivéssemos nós a falar de uma história de assassinato que envolve personagens como Deus , Lucífer Estrela-da-Manhã (mais conhecido como Diabo, também conhecido por...bem, acho que já sabem de quem falamos), Raguel, a Vingança de Deus, entre outros.
Neil Gaiman, a partir de uma simples estrutura narrativa típica de uma história de mistério, constrói uma outra, mais envolvente e abrangente, que acaba por nos transportar para as mais básicas questões com as quais nos confrontamos desde que somos racionais, desde o momento em que, ao tentar encontrar padrões e explicações para o mundo , as encontramos na forma do divino. E é nessas questões que reside um dos mais importantes temas que Neil Gaiman acaba por abordar neste conto, sem contudo dar respostas definitivas e sim um ponto de vista pessoal que não deixa de procurar o universal. Tudo isto sugerido na resposta final ao mistério mais importante em todas as histórias de detectives e também neste “Murder Mysteries”: quem matou? E a resposta a esta questão acaba por destilar a resposta a outra, esta maior. E qual é a questão? Isso deixo ao leitor descobrir por si mesmo porque ela pode ser diferente da minha! E porque saber qual a questão sem ler este livro é saber a resposta de antemão. E qual é a graça de ler uma história de detectives quando já se sabe quem matou?

E o ilustrador? Craig Russel é conhecido na BD americana como alguém a quem se recorre quando temáticas mais fantásticas e divinas são o apanágio da história. Ele é o consumado ilustrador de Demónios tenebrosos, de Anjos Etéreos , de Duendes traquinas, de Fadas voluptuosas , de Deuses Loucos e de Deuses sãos. E “Murder Mysteries” é mesmo sopa no mel para este artista. E digo-vos mais: para nós também.

O conto inicia-se com a frase “This is all true”. Nada mais acertado!

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