Manifesto de Julian Rosefeldt

A linguagem é a mais importante invenção humana. Usando a palavra, a humanidade consegue transmitir muito mais do que a sensação de fome, sede ou dor. Consegue questionar os céus e a natureza. Percebe o mundo ao atribuir-lhe nomes. Não será por acaso que, nas religiões dos tempos antigos, um demónio (imaginado ou não) nunca permitia que o "seu verdadeiro nome" fosse conhecido. Caso isso acontecesse, corria o risco de ser aprisionado para sempre.

Palavras são poderosas. Dependendo da intenção, elas prendem o mundo, entendem-no, ou mistificam-no, aumentam o mistério. A Arte sempre foi uma das melhores formas de entender o mundo, provavelmente mais relevante do que a Religião e a Ciência. A Arte é a província do indivíduo. E todos nós somos únicos e indivisíveis. Como era dito no filme O Clube dos Poetas Mortos, e parafraseio, "Engenharia, medicina, essas são profissões honradas e nobres. Mas Poesia, Beleza, Romance, Amor... são por causa deles que permanecemos vivos".

Mesmo a Arte necessita de palavras, para verter uma visão, uma perspectiva, um testemunho que quer passar. A Arte é tão múltipla quanto múltiplos são os indivíduos, mas mesmo ela origina correntes, grupos, movimentos. Estes são destilados em manifestos onde os artistas de uma escola de pensamento discorrem e vomitam todo o seu pensamento, antagónico, evolutivo ou original, sobre a Arte. Os manifestos são arte feita intenção feita palavra.

Este filme deve ter arrastado muitos ao Cinema para verem a Cate Blanchett a encarnar diversas personagens. Sim, ela faz isso, mas as personagens estão ali para falar, declamar ou vociferar um dos doze manifestos escolhidos: está lá o Dadaísmo (o meu momento favorito do filme); o surrealismo; o minimalismo; a arte pop; Cinema; etc.  Este não é tanto um filme mas uma colagem de doze momentos díspares, manifestações da individualidade. Se forem com este aviso, divertem-se tanto quanto eu.

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