The Post de Steven Spielberg

No que a mim diz respeito, Steven Spielberg é um dos mais importantes realizadores da História do Cinema mas também dono de uma filmografia desequilibrada. Não falo do ecletismo, da alternância entre filmes de entretenimento pop e outros mais cerebrais. Falo de filmes em que se nota todo um esforço do realizador e outros que (aparentam) ser mais preguiçosos. Por outro lado, os meus favoritos são os três primeiros Indiana Jones, o segundo Jurassic ParkGuerra dos Mundos e Minority Report (A.I., ainda que maravilhoso, é uma parceria entre ele e Stanley Kubrick). Existem outros dos quais reconheço a importância narrativa e histórica mas que ficaram longe desta lista dos meus favoritos: Resgate do Soldado Ryan; Tubarão, Encontros Imediatos; A Lista de Schindler. Nenhum destes filmes é preguiçoso. São marcos que sublinham uma carreira de autor dedicada à 7.ª Arte. Infelizmente, não se pode dizer nada disto em relação a este The Post.

The Post é um filme clara e sofregamente politico. É um filme feito à pressa para os Óscares e para fazer-se notar neste momento da História dos EUA, com a ascensão de um Presidente da República de moralidade ambígua e comportamentos que desafiam a Democracia. A obra segue os trâmites do filme de jornalista, em que um conjunto de pessoas lutam contra as instituições para fazer prevalecer uma verdade. Verdade esta que, no caso de The Post, passa pelo derrube de moralidades falsas do Governo dos EUA. O jornalista, desde muito cedo na história do cinema estado-unidense, funciona como um desafio à imagem de excepcionalismo que este país tem de si mesmo, uma forma de anti-John Wayne. Funcionam, em muitos casos, como forma de mostrar as falhas da Democracia deste país, que se apregoa como "a maior do mundo e da história". Contudo, e ao mesmo tempo, são uma forma do país, catarticamente, analisar-se e autoelogiar estes outros (anti) heróis que fazem funcionar o mesmo sistema que tentam "destruir". No meio desta dança entre patriotismo e anti-patriotismo, a mensagem é sempre agri-doce e não apoteótica. O filme do jornalismo acaba por reconhecer as próprias limitações da profissão, quando confrontada com a complexidade da realidade.

Uma das formas porque falha este The Post passa por não conseguir resistir a uma certa inocência. Spielberg vê necessidade em ver uma vitória clara na missão deste homens e destas mulheres. No Chefe da Redacção de Tom Hanks. Na dona da empresa detentora do jornal Washington Post, protagonizada por Merryl Streep. Nos muitos jornalistas. No whistle blower. Spielberg vê-se obrigado a discursos apoteóticos de vitória contra as instituições governamentais. Essa necessidade é Histórica e patológica mas as audiências não são as mesmas de há uns anos atrás (pelo menos as europeias).  Sabemos o que veio a seguir, sabemos do estado do jornalismo actual, da ingerência do lucro na procura da Verdade incómoda que o Jornalismo deve almejar, sabemos de quem ocupa actualmente a Casa Branca.

Consta que Spielberg despachou este filme entre outras produções para se colar ao momento actual e aos óscares. Isso nota-se. Apesar dos grandes nomes envolvidos, este The Post é um exercício simplista para uma questão complexa. Pedia-se mais do realizador e da história.

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