Swamp Thing, Darker Genesis de Mark Millar, Phil Hester e outros

A década de 80 na BD dos EUA foi um ponto de viragem nessa arte. Um dos momentos zero que assinalou essa viragem foi o trabalho dos ingleses Alan Moore e Stephen Bissete numa personagem moribunda da DC Comics: o Swamp Thing - Monstro do Pântano em português. Para não arriscar substancialmente, a editora de BD deu carta branca aos dois autores para trabalharem nesta personagem pouco conhecida e marginal. Apesar das credenciais e criticas favoráveis de obras produzidas do outro lado do oceano (Miracleman), a DC não estava ainda disposta a dar o proverbial tudo por tudo. Depressa corrigiriam esse rumo, após Moore e Bissete provarem, com a lendária sequência de histórias no Swamp Thing, do que eram capazes. Não só marcaram indelevelmente a 9.ª Arte como uma personagem que ficaria para sempre associada à qualidade do seu trabalho (na Marvel o mesmo aconteceu, por exemplo, com o Demolidor de Frank Miller).

Após a saída de Moore (que deixou o Monstro do Pântano depois de Bissete, este sendo substituído por Rick Veitch), muitos foram os que, até hoje, o seguiram nesta personagem e todos, de uma forma ou de outra, não conseguiram sair da sua sombra ou influência, num misto de homenagem e medo. Recentemente, a DC tem revisitado em formato de Trade Paperback algumas sequências de histórias de margem das décadas de 80 e 90 e, desta vez, coube ao Monstro do Pântano de Mark Millar e Phil Hester. Começaram com The Root of All Evil e continuam com este Darker Genesis.

Este volume colecciona um arco onde a personagem titular vê-se envolvido com um estranho assassinato invertido, onde as primeiras cenas da história são de uma mulher a ser reavivada, como num filme visto em rewind. Essa mulher é uma escritora frustrada que não pode abandonar o mundo dos vivos enquanto não completar a sua obra máxima, uma colecção de histórias fantásticas às quais, segundo, ela, falta um elemento essencial: o próprio Monstro do Pântano. Para apaziguar a alma da jovem, a personagem titular encetará várias viagens por mundos paralelos para ajudar a finalizar os enredos das histórias: visita a Terra-3 da DC Comics, onde tudo é ao contrário e o Super-Homem e o Batman são vilões - mas não aparecem, o foco é outro; uma terra onde os nazis venceram a 2.ª Guerra Mundial; outra onde um herói idoso enfrenta um outro tipo de monstro do pântano; etc. Os vários enredos, aparentemente desconexos, confluem para uma macro história que é-nos revelada no final.

O trabalho de Millar ainda não era particularmente conhecido nesta altura e é também um dos mais fortes na sua carreira. Hoje em dia, o autor escocês dirige os seus esforços para histórias ao estilo de uma Grande Ideia, desenhando obras muito direccionadas para a adaptação pelo Cinema. Aqui é mais focado, controlado e pessoal, notando-se já a apetência para essas Grandes Ideias, mas temperada, acabando por construir um verdadeiro page-turner cheio de conceitos e execução interessantes. Faz-se acompanhar por desenhadores também em início de carreira e que, hoje, são nomes mais ou menos relevantes da arte: Phil Hester, o principal colaborador neste Monstro do Pântano, Chris Weston, Phil Jimenez e Jill Thompson. Acabam por construir uma sólida sequência de histórias antes do próxima colecção, não só a sua última como a que junta os derradeiros capítulos da revista do Monstro do Pântano à altura, a mesma que nos deu Alan Moore nos EUA.

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