As minhas 10 (e mais qualquer coisa) histórias favoritas do Super-Homem

Um dos momentos do ano está mesmo ao virar da esquina, antecipado por mim com entusiasmo de criança: o filme Batman vs Superman: Dawn of Justice. A DC Comics e a Warner Bros. preparam-se para lançar o seu universo cinematográfico de super-heróis. Já tinham começado com o Man of Steel de 2013 mas é com este BvS que assumem a sua intenção. Como leitor destes universos há quase quatro décadas, já reuni um amplo número de historias favoritas que gostava de partilhar convosco em jeito de preparação para este Titânico filme.

Esta semana é a vez do Homem de Aço, o Super-Homem. É dos meus personagens favoritos de BD e, portanto, difícil será escolher.





Whatever happened to the Man of Tomorrow? De Alan Moore e Curt Swan

Este é o fim da história do Super-Homem. Em meados da década de 80, a editora DC Comics, decidiu reiniciar este e muitos outros dos seus personagens do zero. Mas antes de o fazer, permitiu o adeus à versão "antiga". Alan Moore, um dos maiores escritores de BD, e Curt Swan, desenhista do Homem de Aço de décadas, foram os escolhidos para esta sentida carta de despedida, em que reuniram-se todos os grandes protagonistas da mitologia, desde namoradas, inimigos, amigos, companheiros até mesmo animais de estimação. Foi a separação possível e, até hoje, continua a despoletar as boas memórias do amor que é fervorosamente dedicado por muitos autores da BD a este personagem tantas vezes considerado datado.

Man of Steel de John Byrne e toda a run do escritor/desenhista

E depois de Whatever happened to the Man of Tomorrow? só podia vir a história que reiniciou o Super-Homem do zero. John Byrne, à altura uma super-estrela da BD (se é que é possível existir tal coisa), deu-nos um outro Super-Homem, menos poderoso, ligado às suas raízes terrenas e não extraterrestres, um modelo de ética e moral a seguir mas já não tanto a imagem cristalina e pura com que muitos viam o personagem. Aqui são reintroduzidos, em versões modernas, elementos e personagens da mitologia como sejam Lois Lane, a eterna namorada, Lex Luthor, o sempre arquinimigo, e os pais terrenos, que não haviam morrido (como em anteriores versões), mas antes eram a pedra basilar onde se alicerçava o mundo de Clark Kent. A versão de John Byrne duraria, nas suas mãos, mais 2 anos (todos compilados em nove volumes de leitura recomendada) e, em outras, mais 25, tornando-se na mais reconhecida por gerações recentes (inclusive a minha). A mini-série Man of Steel existe em português pela editora Levoir.

Superman: Red Son de Mark Millar e Dave Johnson

Num mundo imaginário, a nave onde, ainda criança, o Super-Homem viaja, não cai nos EUA mas na URSS. Ao invés de se transformar num defensor do Sonho Americano, passa a ser o símbolo da Utopia Comunista. Neste conceito simples está contida a análise não tanto da forma do Super-Homem, mas antes do seu espírito, daquilo que representa não só na BD mas, acima de tudo, na cultura popular do século XX. Uma daquelas raras obras da BD americana que podem ler-se sem ter de se saber mais nada, para além do contido nas suas páginas (esta história já foi publicada pela Levoir).

Superman Secret Identity de Kurt Busiek e Stuart Immonen

Outra história imaginária (e não são todas, pensam vocês?). Num mundo igual ao nosso e sem explicação aparente, um leitor de livros de BD do Super-Homem torna-se no personagem que tanto ama. O sonho de muitos? Talvez, mas o que Busiek faz, à semelhança de Millar em Red Son, é estudar não tanto os poderes mas as consequências de se ser o Super-Homem, não preocupando-se tanto com a escala mundial mas antes com a humana, focando não só a luta por um mundo melhor mas também por uma vida melhor. Isto porque Secret Identity acaba por também ser uma bela história de amor, entre este outro Homem de Aço e a sua outra Lois Lane.

DC One Million de Grant Morrison e Val Semeiks

A editora quis comemorar o legado do Super-Homem e, para isso, escolheu o metaconceito imaginado pelo escocês louco Grant Morrison: e se a revista Action Comics, onde o Super-Homem apareceu pela primeira vez em 1938, continuasse a ser publicada até o seu número 1 milhão? Que mundo seria o do século 823, data onde a revista chegaria a esse número? Com a participação dos companheiros da Liga da Justiça, Morrison teceu uma belíssima saga que se estende pelo universo e pelo tempo, focando-se no precioso legado deixado pelo Super-Homem ao longo de mais de 800 séculos. Somos testemunha das vidas atribuladas da sua família, mas também da reverência que dedicam ao progenitor, quando é anunciado o seu regresso depois de um período de reflexão de 20 mil anos no centro do Sol. Uma história virtuosa e de imaginação delirante.

The Death of Superman por vários

Os infames anos 90 do século XX foram prolíficos em mega eventos onde a vida dos personagens de BD eram modificados de forma delirante e (vendia-se) para sempre. Claro que a DC não escaparia à moda e o seu maior e mais reconhecível dos personagens não seria excepção. Assim, durante longos meses eles matariam o único dos seus personagens que julgava-se eterno e verdadeiramente invulnerável. Numa luta digna de deuses olímpicos, o Super-Homem enfrenta Doomsday e cai. Seguem-se as elegias, o funeral, o aparecimento de substitutos e o inevitável regresso. A história envelheceu bem apesar de ser um esforço comercial e não tanto de vontade artística. 

Our Worlds At War por vários e toda a run de Jeph Loeb/Ed McGuiness e Joe Kelly

Um das runs mais esquecidas do Super-Homem ocorreu no principio deste nosso século, liderada por Jeph Loeb, Joe Kelly, escritores, e Ed McGuiness, desenhista. Ela é uma das minhas favoritas. Todos os artistas envolvidos conseguiram criar histórias divertidas e capazes de agarrar o mais experimentado dos leitores. É desta cooperação que saíram emblemáticas narrativas como What's So Funny About Truth, Justice and the American Way?, Emperor Joker, Lex Luthor: Presidente dos EUA e este Our Worlds at War, onde todo o Universo DC e especialmente o Super-Homem enfrentam a ameaça conjunta de Imperiex e Brainiac

Superman: Birthright de Mark Waid e Francis Yu

Um personagem de mais de sete décadas de existência como o Super-Homem já teve a sua origem revista um sem números de vezes. Já aqui falei da Man of Steel  de Byrne e agora é a vez deste Birthright de Waid e Yu de 2003. Waid é um conhecido apaixonado pela mitologia do Homem de Aço e, neste ano, foi-lhe incumbida uma revisão dos primeiros passos do herói. Decide escolher uma mescla entre a versão pré-Byrne e Byrne, voltando a aproximar o personagem da sua herança alienígena e incutindo uma dimensão naturalista. O Super-Homem de Waid é Vegano na alimentação, a sua visão pode ver a "aura" das pessoas à sua volta. Infelizmente, esta visão depressa foi "esquecida" por uma nova origem de 2009, escrita por Geoff Johns e Gary Frank (por sua vez, também "esquecida" meros dois anos depois). 

Astro City: Life in the Big City de Kurt Busiek e Brent Anderson

O quê? Mas esta não é uma história em que apareça o Super-Homem. Nem sequer é da sua editora. Pois, mas o primeiro capítulo deste volume de Astro City foca a vida de um personagem baseado no arquétipo, de nome Samaritano. Busiek revela uma preocupação: terá tempo para si o homem que é super? Ao homem a quem foram dadas capacidades fora do comum, a quem é exigido, pelo seu próprio barómetro ético, que salve o mundo, em todo o lado e a toda a hora, a esse homem não sobra tempo nenhum para si. Numa belíssima história de 22 páginas, Busiek não se limita a preocupações estéticas, mas antes basilares da natureza humana. Porque até os homens que são super têm desejos humanos. 

All Star Superman de Grant Morrison e Frank Quietly


Acabo como comecei, com uma história que relata os últimos dias do Super-Homem, mas desta vez por Morrison. Lex Luthor, o maior inimigo do Homem de Aço, finalmente conseguiu: matou o Super-Homem. Não rápida mas lentamente, utilizando os seus próprios poderes contra ele. O que se segue é um lento “pôr a casa em ordem”, com o Super-Homem a distribuir as suas benesses pelo mundo, como um pai cuidador, dizendo os seus adeus, abrindo o caminho que a humanidade deve seguir com os próprios pés. Tudo isso numa roupagem nostálgica, evocado a mitologia acumulada em 70 anos e deixando-nos a derradeira história do deus com olhar de criança. 

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