Mia Madre de Nanni Moretti (Minha Mãe)

É este filme Cinema? É possível escrever frases certeiras o suficiente para falar das emoções tocadas por este esplendoroso objecto da 7.ª Arte? Eu, claramente, não consigo escrever essas palavras. Tudo é forte demais, verdadeiro demais, ao ponto de o próprio realizador, através do personagem feminino que funciona como seu alter-ego, gritar que "precisa de realidade". Parece paradoxal? É porque é. Nessa dicotomia, nesse confronto entre a necessidade de uma narrativa ficcional, nessa necessária futilidade, e a urgência do real, neste confronto está também o novo filme de Nanni Moretti. 

O realizador italiano quis expurgar uma experiência emocional muito forte na sua vida: a morte da mãe (à semelhança do que já tinha feito com O Quarto do Filho). Fui para a sala sem saber este facto mas as emoções e sensações construídas por Moretti são de tal forma intensas e verdadeiras que é impossível não saber, poucos minutos no interior do filme, que esta trata-se de uma obra pessoal, sentida de uma forma que apenas a experiência na primeira pessoa pode conseguir. Nada soa a falso, nada soa a comida mastigada por outros e digerida por ele. Contudo, mesmo isto não é suficiente para descrever com acuidade a beleza deste extraordinário filme. Porque muitos outros realizadores e artistas terão vivido a narrativa das suas imagens mas nem todos conseguiram depois expressá-lo de forma tão... Eloquente? Emocional? Verdadeira? (lá está, faltam-me as frases e o talento). Não são necessários grandes momentos, diálogos shakespearianos, para conseguir o resultado que ele consegue. 

Este é um filme sobre uma enorme e profunda perda mas também, a meu ver, muito mais que isso. Nanni aproveita para falar de outras coisas, sementes discretamente plantadas na esperança que cresçam e se multipliquem. Fala de memória, de história, de que mesmo aquilo que parece inútil saber (e se calhar já não serve mesmo para nada) não deixa de ser a base sobre a qual todo o edifício assenta solidamente. Não nascemos do vácuo. Somos o somatório das nossas memórias mas também das memórias dos outros.

E a resposta à minha primeira pergunta? Para mim isto é Cinema e também muito mais que isso. É quase realidade ou é mesmo o Real, descrito por um homem dotado do dom não apenas da palavra mas da narrativa de imagens em movimento. Um filme poderoso a ser visto mas nunca de animo leve. Porque o que se passa nas quase duas horas não é estranho a nenhum de nós.

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