O meu MOTELx! - The Hallow, Extinction, I Am Here e Knock Knock parte II

Os Cautionary Tales são avisos à navegação. Faróis que permitem virar mais à esquerda ou mais à direita, impedindo o distraído de embater-se contra terra ou rochedos. Muitas são as vezes em que podem ser confundidos com contos morais já que são munidos de uma lição paternalista. Na maior parte das vezes são certeiros ou, pelo menos, fazem-nos pensar se um caminho particularmente duvidoso será o melhor. Como por exemplo, raptar uma criança de uma prostituta a viver uma vida de miséria com o intuito de a educar "melhor". Ou, sendo casado, aceitar fazer sexo com duas mulheres de pouco mais de 20 anos após receber uma visita inesperada de ambas no meio de uma noite chuvosa - isto na própria casa do casal e num fim-de-semana em que mulher e filhos estão longe. Estas são, respectivamente, as premissas de I Am Here e de Knock Knock, o primeiro do realizador Anders Morgenthaler e o segundo de Eli Roth, um velho conhecido dos filmes de terror e de quem viu Detahproof  e Inglorious Basterds de Tarantino.

Uma das características de alguns Cautionary Tales é que acabam mal para um ou mais protagonistas e estes dois filmes não constituem excepção à regra, ou também não estivéssemos a falar de filmes de "terror" - será um pouco esticar a corda incluir ambos nesta categoria mas estamos a falar do MOTELx... No caso de I Am Here este "acabar mal" é um pouco mais cinzento, ou seja, não só não é claro que "acabe mal" como a lição a ser aprendida cai numa área moralmente ambígua. Esta ambiguidade é, contudo, muito pouco explorada, porque um dos lados da "questão" é retratado de forma negra e seca, inclinando a narrativa e a opinião dos menos avisados para um dos lados da "discussão". Nesse aspecto, I Am Here falha, ainda que nos ofereça uma Km Basinger numa forma há muito esquecida e uma realização competente e por vezes inspirada. 


Knock Knock, contudo, não oferece qualquer tipo de ambiguidade moral , ou melhor, Eli Roth parece estar claramente de um dos lados da questão - obviamente não vou revelar qual porque constitui uma das surpresas do filme. A controvérsia abordada é tão antiga quanto existem homens e mulheres e tão antiga quanto a instituição casamento, aqui entendida no seu sentido mais lato, o do compromisso amoroso entre dois seres. Por vezes, a abordagem de Roth é um pouco carnavalesca e até simplista mas as questões que levanta e a que responde (talvez esteja aqui o maior erro do realizador) são tão "primordiais" que, provavelmente, exigem este tipo de abordagem. Como é comum a muitos realizadores de certa inclinação (mais comercial) ficam-se pela rama da questão mas, neste caso, resulta particularmente bem e a coda de todo o enredo é, a meu ver, bem conseguida - o que constitui, em si, um triunfo. Cheira-me a uma possível sequela nem que seja para responder ao mistério de onde vêm aquelas duas mulheres. É esperar para ver e, quem sabe, saber de que lado está a opinião de Roth (e, já agora, a nossa). Bem vistas as coisas, Knock Knock é uma Force Majeure em versão light

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