Amy de Asif Kapadia

Será que estou a ficar velho? Não apenas de idade, bem visto. Mas de sentimentos, daqueles que nos ocorrem quando vimos um filme mais sombrio, ouvimos uma notícia mais trágica. Será que a empatia cresce? Como é que possível olhar para o acidente de carro que foi a vida da cantora Amy Whinehouse e não contorcer-me? Porque é que aconteceu isto a alguém? Porque é que te aconteceu isto, Amy? Claro que o que ocorreu à cantora não é, de todo, o pior que pode passar-se na vida de um Ser Humano. Não é isso que estou a dizer. Posso mesmo afirmar que ela não teria nenhuma razão (a não ser a sua própria tragédia, o seu "destino") para ter tido o fim que teve, a vida que teve. Mas a realidade dos factos é que a sua vida obrigou-me a sentir um ímpeto de protecção e de carinho. Ou melhor, a sua vida de acordo com o realizador deste documentário.

Amy Whinehouse, dona de uma inato talento para a canção, para a música, para o Jazz, foi fulgurante. Começou de repente e foi-se de repente. Todos sabemos ou ouvimos falar da vida desta mulher. O que o Asif Kapadia quis foi testar várias teorias. Um documentário, ao contrário de uma vida, é composto por um limitado número de pontos de vista e, mais importante, de minutos. Sabemos que o realizador tem em suas mãos um instrumento de "manipulação", nem que seja pela simples escolha de quais minutos decide exibir sobre a vida de uma pessoa ou situação. Não é diferente neste Amy. Mas o que ele escolhe é de tal forma poderoso e verdadeiro que somos arrastados para uma vida pela qual, no final, nutrimos uma gigante pena por ter sido eliminada tão cedo. Não só pelo talento (sim, eu tive de ir por esse lugar comum, desculpem, mas ele era enorme) mas, acima de tudo, por tratar-se de um Ser Humano como tantos outros  e por isso mais precioso que qualquer obra de arte, mesma aquelas produzidas por esta cantora (já o dizia Walt Whitman). O realizador, inclusive, em determinado momento do filme, coloca a questão sobre uma encruzilhada na vida de Amy na qual se ela tivesse optado por um caminho diferente não originaria um destino diferente. A vida desta maravilhosa cantora é uma colecção de tragédias, vistas no seu sentido mais clássico: adivinhávamos o fim logo desde o início. Mas não! A vida de Amy não era uma peça de teatro ou um livro do Realismo. Era uma vida. E é por isso que, no final, a sua morte bate demasiadamente forte e dura.

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