Kaguyahime no monogatari de Isao Takahata (O Conto da Princesa Kaguya)

Quando chegamos à adolescência muitos de nós deixamos de ver desenhos animados. Uns porque realmente já não gostam. Outros porque continuam a apreciar mas não é bem visto pelos amigos. E, finalmente, existem também os que continuam a ver. Aos poucos e com o passar dos anos, vamos nos deixando de lugares comuns e  vergonhas e passamos a gostar das coisas pura e simplesmente porque gostamos delas (eu sei que não é bem assim, mas aguentem-me até o final). O desenho animado (tal como a BD) tem, contudo,  o condão de continuar a ser visto como o parente pobre da cultura, muitas vezes relegado para o plano do infanto-juvenil. Um lugar que, claro, padece do mal da generalização.

De um outro lado desta questão, existem ainda os que "fazem um esforço" para gostar de desenhos animados mas apenas com o selo de qualidade intelectual que o justifique. Foi assim com Hayao Miyazaki e os seus belíssimos Princesa Mononoke, Viagem de Chihiro, etc. Parece que Isao Takahata, também dos famosos estúdios Ghibli, faz parte deste clube com selo de aprovação. Este senhor não é, de todo, estranho aos portugueses: é responsável pela Heidi; fez episódios do Conan, o Rapaz do Futuro. Contudo, as suas incursões pelo cinema não são de descurar. O belíssimo e "tão trágico que não parece desenhos animadosO Túmulo dos Pirilampos é prova mais que suficiente que está a par do seu mais mediático companheiro de estúdio. 

O Conto da Princesa Kaguya é muito (mesmo muito) mais leve que o filme de que falei acima. Trata-se da adaptação de um conto de fadas japonês (na falta de outro termo), no qual um humilde cortador de bambu é abençoado com uma menina nascida de um caule da planta que colhe. Julgando que a rapariga terá de ter um destino merecedor do seu pedigree, quer que ela se case com um nobre ou mesmo com o imperador. Isto apesar da bela e bucólica  infância e adolescência que proporciona à sua filha adoptiva. 

Enquanto ia assistindo ao desenrolar da história lembrava-me, não sei porquê, de Tolstoy e da sua famosa predilecção pela vida simples do homem do campo. A ambição do pai, não desejada nem pela filha nem pela mulher, é o motor da narrativa e o que impele o autor à mensagem que quer transmitir com este belo conto: o elogio à vida simples, humilde e ligada à natureza (pelo menos foi assim que senti o filme). Mas não é só isso. A capacidade de escolha que todos os homens (e deuses) têm, permanece na nossa vida como um antídoto ao destino, ao fado. Essa escolha poderá ter de ser feita em detrimento da nossa cultura, daquilo que respeitamos. Mas, quando escolhemos algo contra a nossa natureza, pagamos um preço caro.

Eu não sei qual a mensagem final deste belo Conto da Princesa Kaguya mas só o posso aconselhar a apressarem-se a irem ver ao cinema (porque no computador ou TV não é a mesma coisa).

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